06 set, 2022 - 11:23 • João Cunha
Idalina Pereira sai à pressa da estação de Entrecampos, em plena hora de ponta. Segue em direção ao trabalho, ainda a pensar nas medidas ontem anunciadas por António Costa de apoio às famílias e pensionistas face ao aumento dos preços.
Entre elas, está previsto o pagamento de 125 euros aos trabalhadores que ganham até 2.700 euros brutos por mês e o pagamento extraordinário de 50 euros por cada filho até aos 24 anos que as famílias tenham a seu cargo.
Idalina vê a medida com bons olhos, embora ache que "as pessoas vão gastar o dinheiro todo assim que o receberem".
Sem saber especificar qual a medida mais relevante, a primeira conclusão de Idalina é que não é possível agradar a todos. "Acho que é difícil as pessoas estarem todas contentes. As pessoas não estão bem em lado nenhum", explica, enquanto caminha rumo ao trabalho.
Frente à estação, numa paragem de táxis, a maioria dos motoristas é pensionista e não concorda com a solução encontrada para os compensar face aos efeitos da inflação.
Vão receber mais meia pensão em outubro. E para o ano, o aumento a ser proposto pelo Governo à Assembleia da República será de 4,43% para pensões até 886 euros, 4,07% para pensões entre 886 e 2.659 euros e 3,53% para as restantes que estejam sujeitas a atualização.
"Esta metade das pensões que nos vão dar é tal e qual como os 10 euros que prometeu este ano. Repôs cinco euros nos cinco ou seis que já tinha dado em janeiro", indica Bento Marques, fora do táxi, à conversa com outros motoristas. "Ele [o primeiro-ministro] não pode mexer assim nas pensões, cujo aumento está estabelecido por lei."
Em entrevista à Renascença, deixa uma sugestão a António Costa: "Que fale português para as pessoas entenderem. Dá metade da pensão agora mas, no aumento de janeiro, já faz as contas aos 14 meses seguintes e desse valor, retira a metade que recebemos em outubro."
Já depois da conversa, a ministra do Trabalho esclareceu que a meia pensão extraordinária será sujeita a tributação normal, sem aumentar a taxa de IRS, permitindo um poder de compra imediato sem prejudicar os pensionistas.
Apesar das explicações, a Associação de Reformados e Pensionistas mantém as críticas e já fez saber, em declarações à Renascença, que vai "contactar as entidades que podem recorrer ao Tribunal Constitucional" para que analise esta medida.
Quanto às medida relativas ao preço dos combustíveis, o Governo decidiu manter o congelamento da taxa de carbono até ao final do ano e manter o desconto em sede de Imposto Sobre Produtos Petrolíferos (ISP), bem como a devolução do IVA nestes produtos.
A medida extraordinária será aplicada até ao final de 2022. Na prática, segundo contas do Governo, num depósito de 50 litros haverá uma poupança de 16 euros no gasóleo e 14 euros na gasolina, aos preços atuais.
À Renascença, o taxista Bento Marques é peremptório:
"Vai tudo atestar para ganhar 16 euros em 50 litros e por isso digo que é um incentivo ao consumo."
Herminio Jorge ouve e acena afirmativamente com a cabeça, sentado ao volante do táxi que conduz diariamente.
Também não entende por que motivo o Governo não foi mais longe nas medidas de apoio face à subida de preços da energia. O Governo vai propor à Assembleia da República redução da taxa do IVA sobre a eletricidade de 13 para 6%.
"Se olhar para a sua fatura da eletricidade, tem lá várias parcelas. Só uma delas - a mais pequena - é a única relativa a 13%", lamenta Hermínio Jorge.
Nas parcelas da fatura com 23% de IVA não houve mexidas.
O taxista dirige ainda uma crítica ao Presidente da República, por ter promulgado o diploma a estabelecer estas medidas excecionais de apoio às famílias ainda António Costa as divulgava na noite de ontem.
"As medidas não estão certas. Os antigos, sem estudos nem nada, imaginam que estes apoios chegam e que vão resolver tudo. Não é verdade. Vai ser retirado tudo outra vez."
[atualizado às 12h43]