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Dia Mundial da Doença de Alzheimer

Demência ainda é uma palavra assustadora. Conheça 12 fatores de risco modificáveis

21 set, 2022 - 12:40 • Ana Carrilho

Quarenta por cento das demências podem ser prevenidas ou atrasadas. Tudo depende dos comportamentos de cada um. A Alzheimer Portugal aposta na prevenção Numa das iniciativas para assinalar o Mês da Doença de Alzheimer, recorreu a atividades lúdicas para exercitar o cérebro. Corre tudo bem até aparecer a palavra demência. Assusta, sobretudo, os mais velhos.

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Uma série de cartazes de cores vivas, com predominância do verde, dispostos em círculo, na praça central de um grande espaço comercial de Cascais. Foi assim que se mostrou ao público uma das iniciativas da Alzheimer Portugal, com o objetivo de chamar à atenção para os riscos de ter demência e, sobretudo, como prevenir a doença, tendo atenção aos riscos presentes no quotidiano.

Aos cartazes juntavam-se os desafios: uma sopa de letras, o jogo da alimentação saudável, com os alimentos a preferir e a evitar, alguns exercícios físicos e o xilofone. Dois ou três elementos da Associação convidavam quem passava a jogar e ao mesmo tempo a receber informação sobre a doença de Alzheimer e outras demências.

“No fundo, a ideia é criar aqui algum dinamismo para que as pessoas se aproximem de nós e possamos fazer a nossa missão: passar informação e ao mesmo tempo, com a nossa presença, ajudar a reduzir o estigma, que continua a ser uma realidade. Por isso usamos cores alegres e temos uma mensagem positiva para falar sobre um tema muito sério”, diz Catarina Alvarez, responsável das relações institucionais da Alzheimer Portugal, em declarações à Renascença.

Experiências traumáticas travam a procura de informação

As reações foram diversas, como a Renascença constatou. Houve quem parasse, entrasse, fizesse os jogos e ouvisse os conselhos, levando até o folheto que enumera os 12 fatores de risco modificáveis.

Houve quem fizesse apenas os jogos e outros que iam ouvindo o que as técnicas da Alzheimer Portugal diziam sobre a necessidade de manter o cérebro ativo.

O problema – especialmente no caso de pessoas mais velhas – surgia quando aparecia a palavra “demência”. O comportamento mudava, com várias destas pessoas a recusarem ou mesmo a devolver o folheto. Também houve quem desse uma volta bem ao largo da exposição. A maior adesão acabou por vir de crianças e jovens ou adultos jovens. E alguns deles já tiveram contacto com familiares portadores da doença.

“A quem nunca ouviu falar de demências, convidamos a receber informação para melhorar a saúde do cérebro. Como a mensagem é positiva e as pessoas já estão alerta para as questões da saúde mental, aceitam a informação de bom-grado. Quando vem a palavra demência ou Alzheimer, algumas delas afastam-se”, diz Catarina Alvarez.

“Nada que me surpreenda. Estou há dez anos na Alzheimer Portugal e sei que esta palavra continua a meter medo a muita gente.”

Catarina Alvarez diz que também ali chegam pessoas que já tiveram ou cuidaram de alguém com Alzheimer ou outro tipo de demência. “Essas pessoas vêm ter connosco, falam, às vezes por longos minutos. No fundo, vêm partilhar experiências e nalguns casos, até agradecer a nossa existência (há 34 anos), o apoio que lhes demos e o facto de insistirmos nesta problemática que é cada vez mais relevante do ponto de vista social e de saúde pública”.

No fundo, foi o que acabou por acontecer com Guilherme. Aproximou-se para ver quais eram as suas capacidades atuais e para obter alguma informação.

Ao mesmo tempo que ia ultrapassando desafios, explicou que não era uma situação nova para ele. Há uma pessoa na família que tem Parkinson há vários anos e está a desenvolver demência.

“É alarmante, requer o máximo cuidado, acompanhamento e apoio da família, de enfermagem, do hospital. Está totalmente dependente, tem uma cuidadora a tempo inteiro e outra para as noites. É o meu pai”, acaba por revelar.

Guilherme passou por todos os jogos até chegar ao xilofone, o mais exigente. Com algumas falhas, conseguiu tocar o “Hino da Alegria” e admite que tem alguns hábitos de treino cognitivo, por exemplo, com jogos. “Há aplicações de telemóvel que ajudam a pessoa a exercitar o cérebro. 20-30 minutos por dia, ao fim de uma semana já se nota diferença.”

“Mas continuam a existir muitas reservas”, diz Catarina Alvarez, que conta à Renascença um episódio com poucos minutos. “Entreguei o nosso folheto a uma senhora. Expliquei-lhe que estamos a fazer uma campanha de prevenção para ajudar as pessoas a melhorar a saúde do cérebro. Quando viu a palavra demência devolveu-me o folheto de imediato. Explicou-me que tomou conta da mãe, com demência, durante 20 anos. E este é um tema sobre o qual ainda não consegue falar; quando vê alguma coisa relacionada na televisão, muda de canal. Estamos a falar de um desafio muito exigente para quem cuida na 1ª pessoa e muito pouco aceite do ponto de vista social”.

Os mais novos revelam maior curiosidade e interesse

Foi o pequeno Dinis quem puxou a mãe para o stand, perguntando se tinham uns minutos para fazer os jogos. Apesar de carregada de compras, Sofia acedeu e revelou à Renascença que não se apercebeu logo que os jogos estavam relacionados com a prevenção da Doença de Alzheimer, mas achou muito boa ideia.

“É preciso que as pessoas tenham informação sobre como ter uma vida mais saudável, que se mantenham mentalmente ativas e não deixem de sair, de ir ao café, ao jardim, falar com os amigos.”

Apesar de ter tido uma avó com demência em fase inicial, de quem a família cuidou até ao fim, Sofia admite que precisa de mais informação. Para já, sabe pouco mais do que aquilo que a experiência lhe ensinou: que é uma doença altamente incapacitante, geradora de grande dependência e muito dolorosa para a família, porque há pouco apoio e porque “não se consegue fazer o luto da pessoa que conheciam quando ela ainda está viva”.

As gémeas Lara e Mila são pouco mais velhas do que o Dinis. Vieram pela brincadeira e, com o jogo da alimentação, concluíram que têm algumas correções a fazer: beber menos refrigerantes, comer menos carnes vermelhas e snacks e mais vegetais. Bem, esses já comem “porque a mãe nos obriga”.

Alzheimer também não é um termo estranho para elas. A mãe, médica, já lhes falou do assunto, explicando que as pessoas – especialmente as mais idosas – “começam a esquecer-se das coisas”. Mas para saberem mais sobre estas doenças – demências – e para que possam adquirir hábitos mais saudáveis, levam os folhetos com 12 fatores de risco, em que impera a cor verde.

A rondar o stand andava há algum tempo o jovem Gonçalo, até que ganhou coragem para perguntar se podia experimentar o xilofone. Tocou um “Hino da Alegria” quase perfeito e, na pequena conversa que se seguiu, revelou que já tinha ouvido falar em Alzheimer. Lembra-se que quando era pequeno, uma das avós – já falecida – tinha a doença e esse era um assunto falado na família.

Sem hesitação, respondeu sobre o que tudo isso já lhe tinha ensinado: “temos que aproveitar para viver cada dia o melhor possível e ser o mais feliz possível. Não sabemos se há amanhã.”

Recado ao novo ministro: é preciso implementar os Planos Regionais

Há um novo ministro da Saúde – Manuel Pizarro – e a responsável da Alzheimer Portugal apela a que dê continuidade à implementação dos Planos Regionais, que são a concretização da Estratégia Nacional para as Demências.

Catarina Alvarez diz que estão a ser dados passos nas cinco regiões do país e “é preciso que o ministro nos dê força para levar o trabalho por diante com a maior rapidez e sucesso possível”.

Falta ainda uma campanha a nível nacional para divulgar informação sobre as demências e capacitar profissionais da saúde e do setor social (instituições, centros de dia, lares, apoio domiciliário) para acompanhar as pessoas com demência e que são cada vez mais.

“Precisamos que os setores da saúde e social falem entre si, que haja maior integração dos cuidados. Estamos a falar de um conjunto de doenças que afetam o cérebro e de pessoas que vivem muitos anos com a doença, passando por várias fases, que precisam de acompanhamento continuado nestes dois níveis até ao fim da vida”, alerta Catarina Alvarez.

Doze fatores de risco modificáveis que todos podem controlar

Segundo a Comissão Lancet, 40% das demências podem ser prevenidas ou evitadas. Por um lado, reduzindo os riscos de lesões; por outro, aumentando a reserva cognitiva.

As demências são doenças tipicamente ligadas ao envelhecimento, mas há cada vez mais casos que ocorrem em idades mais precoces.

Se não é possível parar o envelhecimento, pelo menos, pode ser possível parar ou modificar alguns fatores de risco:

  • Baixo nível educacional
  • Perda de audição
  • Traumatismo Cranioencefálico
  • Hipertensão Arterial
  • Sedentarismo
  • Diabetes
  • Consumo excessivo de álcool
  • Obesidade
  • Tabagismo
  • Depressão
  • Isolamento Social
  • Poluição do Ar

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), as demências são a sétima causa de morte entre todas as doenças e uma das principais causas de incapacidade e dependência das pessoas mais velhas em todo o mundo. Em Portugal há cerca de 200 mil pessoas com demência.

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