04 out, 2022 - 13:59 • Celso Paiva Sol
Só nos últimos quatro meses, entraram em Portugal 2.920 timorenses. São oito vezes mais do que no mesmo período do ano passado (350), muito mais do que em 2020 (52), e também muito acima do que aconteceu em 2019 (471), ainda antes da pandemia.
A maior parte destes timorenses chega atraída por falsas promessas de emprego e os que não têm qualquer ligação ao nosso país acabam por ficar abandonados á sua sorte.
A Alta Comissária para as Migrações, Sónia Pereira, revela à Renascença que “estão identificados cerca de 680 cidadãos em situação de maior fragilidade ou desproteção, concentrados de forma mais significativa no distrito de Beja, mas também em Lisboa e no Fundão”.
Sónia Pereira explica que muitas das pessoas que têm chegado nos últimos meses “estarão, entretanto, devidamente enquadradas, porque têm o apoio de familiares dentro da comunidade timorense" e "esses conseguirão fazer o seu caminho".
Sobre os eventuais esquemas criminosos que têm trazido estes timorenses para Portugal, a Alta Comissária para as Migrações diz que “a informação recolhida junto das pessoas não é muito clara relativamente à informação que tinham sobre a vinda para Portugal e sobre aquilo que poderiam esperar em termos laborais".
"Alguns estiveram durante períodos de tempo a trabalhar, de forma intermitente ou mais regular", adianta Sónia Pereira.
"Essas informações têm sido transmitidas aos órgãos de polícia criminal, para perceberem se a entrada em Portugal está associada a esquemas criminosos, ou eventuais enganos. Esse trabalho ainda está a decorrer”.
A Renascença apurou que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) tem nesta altura 10 inquéritos em curso em que investiga eventuais situações de auxílio á imigração ilegal e trafico de pessoas.
Para gerir este fluxo anormal de timorenses que tem chegado este ano ao nosso país, o Governo criou um grupo de trabalho que inclui representantes de oito ministérios, forças de segurança e entidades públicas nas áreas da segurança social, habitação, emprego e finanças.
No terreno, diz Sónia Pereira, está a ser dada “informação sobre direitos, está a ser feito o acompanhamento nas transferências para alojamento digno, apoio alimentar, apoio na questão da documentação que têm ou que precisam, e também encaminhamento para ofertas de trabalho que estamos a tentar que sejam acompanhadas de alojamento associado".
A Alta Comissária para as Migrações garante que o objetivo é ajudar as pessoas que já cá estão, mas garantir também que futuros interessados em viajar para Portugal “tenham á disposição um conjunto de elementos sobre os serviços em Portugal, que direitos têm, como é que podem encontrar trabalho, qual é o enquadramento legal. Precisamente para diminuir a fragilidade e a falta de proteção no fluxo migratório”.