19 out, 2022 - 11:20 • Fátima Casanova
As aulas começaram há cerca de um mês e ainda há milhares de alunos a quem falta, pelo menos, um professor. As regiões que mais se debatem com este problema são as habituais: Grande Lisboa, Alentejo e Algarve.
À Renascença, o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE), diz que “todas as semanas há 600, 700 ou mais vagas para substituir”, adiantando que continuam a faltar professores de informática, geografia, história português, matemática e físico-química.
Manuel Pereira assume que “o problema é grave” e defende ser “preciso que Ministério e que Governo tomem medidas para que nos próximos três, quatro anos se formem professores”.
Manuel Pereira avisa que, “neste momento, nas universidades e nos cursos de educação não há alunos suficientes para substituir os que se vão aposentar nos próximos anos”.
Aos poucos o “sistema tem estado a perder professores”. Fazendo contas, este dirigente diz que somando o ano passado, este e no próximo saem do sistema mais de cinco mil docentes.
Defende, por isso, que é urgente tornar a profissão mais atrativa, começando por pagar mais: “É preciso que o salário seja estimulante”.
Manuel Pereira avisa que o futuro não se apresenta positivo, porque “o Orçamento do Estado para 2023 considera a educação como um parente pobre, não há medidas que de alguma forma possam perspetivar melhorias desta área para o futuro”.
O presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares diz que “não basta querer trabalhar, porque no final do mês, o professor “tem contas para pagar”, por isso, trabalhar na região de Lisboa implica ter de arrendar uma casa ou um quarto - que custa, 600 ou 700 euros, quando se arranja - e a esta despesa é preciso somar “deslocações e alimentação e depois no final do mês recebe cerca de 1.200 euros”, ou seja, “é pagar para trabalhar”.
Manuel Pereira lança o desafio às autarquias. “Se o Ministério não tem condições para resolver o problema, pelo menos, as autarquias deveriam encontrar uma solução à semelhança do que foi feito para fixar médicos.”
Esta quarta-feira, o secretário de Estado da Educação inicia uma ronda pelas escolas para avaliar como se pode cortar na burocracia e dar resposta aos pedidos de docentes e diretores.
Nos estabelecimentos de ensino há muita papelada para tratar e muitas plataformas onde colocar dados. De acordo com Manuel Pereira, o “sistema de controlo feito pelo Ministério da Educação é absolutamente inacreditável”.
“Várias vezes os mesmos dados são pedidos por diversos organismos ou departamentos diferentes”, exemplifica.
Nestas declarações lamenta que não haja um sistema centralizado de informação no ministério para evitar que diretores e docentes estejam sempre a dar o mesmo tipo de informação.
O mesmo responsável salienta que há mais de 30 plataformas onde é preciso colocar diversos tipos de dados, seja de manuais, de avaliação, de exames, da biblioteca, procedimentos que não deixam tempo para pensar em Educação.
As direções das escolas, na maior parte do tempo, “tratam de questões burocráticas.”