24 out, 2022 - 11:51 • Lusa
Rui Pinto acusou em tribunal a Polícia Judiciária de ter colocado a sua vida em risco por, alegadamente, ter partilhado a sua identidade com o fundo de investimento Doyen em novembro de 2015.
Na sessão desta segunda-feira, no Juízo Central Criminal de Lisboa, o criador da plataforma eletrónica visou diretamente o inspetor-chefe Rogério Bravo, cuja atuação neste caso já chegou a ser investigada, e alegou que a Doyen - que é assistente no processo - chegou a contratar pessoas para irem atrás dele na Hungria.
"Rogério Bravo fez um negócio com Nélio Lucas em novembro de 2015. Esse negócio pressupunha uma troca de informações: Nélio Lucas entregava o relatório da Marclay [empresa de cibersegurança contratada para investigar a intrusão informática] e a PJ entregava o nome do suspeito - o meu nome. E foi o que aconteceu. No dia 26 de novembro de 2015, a PJ entregou o meu nome a Nélio Lucas, colocando a minha vida em risco", afirmou.
Segundo Rui Pinto, que está a prestar declarações ao coletivo de juízes pela terceira sessão consecutiva, a Doyen ainda hesitou em ceder essa informação às autoridades portuguesas, mas terá preferido obter a informação sobre a identidade do responsável pela intrusão informática.
"A Doyen Capital e a família Efendi, na altura, temiam danos reputacionais caso fosse divulgado publicamente que teriam sido alvo de um acesso ilegítimo. Pesaram os prós e contras e concordaram em entregar essa informação, porque era mais valioso o nome do suspeito. Contrataram pessoas na Hungria para chegarem até mim", sublinhou, continuando: "Ainda estavam indecisos relativamente à utilidade da PJ, porque queriam resolver pelos seus meios".
Rui Pinto, de 34 anos, responde por um total de 90 crimes: 68 de acesso indevido, 14 de violação de correspondência, seis de acesso ilegítimo, visando entidades como o Sporting, a Doyen, a sociedade de advogados PLMJ, a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e a Procuradoria-Geral da República (PGR), e ainda por sabotagem informática à SAD do Sporting e por extorsão, na forma tentada. Este último crime diz respeito à Doyen e foi o que levou também à pronúncia do advogado Aníbal Pinto.
O criador do Football Leaks encontra-se em liberdade desde 7 de agosto de 2020, "devido à sua colaboração" com a Polícia Judiciária (PJ) e ao seu "sentido crítico", mas está, por questões de segurança, inserido no programa de proteção de testemunhas em local não revelado e sob proteção policial.