25 out, 2022 - 17:06 • Rosário Silva , com Lusa
A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, confirma que o número de pessoas em situação de sem-abrigo está a aumentar em Portugal.
De acordo com os últimos números, existem cerca de nove mil pessoas "que não têm casa", apenas alojamentos temporários, das quais "cerca de quatro mil pessoas estão em situação de não terem um teto", afirmou Ana Mendes Godinho.
A ministra que falava aos jornalistas, em Leiria, à margem do Encontro Nacional da ENIPSSA -- Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas em Situação de Sem-Abrigo, avançou que estão nestas condições “mais 800 pessoas”, comparativamente com o ano de 2020.
Já quanto aos sem-abrigo que não se adaptaram a viver sob um teto, a governante não dispõe de dados, mas garante que o "balanço global é muitíssimo positivo".
"Hoje vou visitar uma dessas pessoas aqui em Leiria, que faz parte do programa de "housing first" desenvolvido pela Associação InPulsar, em colaboração com a Segurança Social, e que me dizem que está a correr muito bem", exemplificou.
Ana Mendes Godinho anunciou que o Governo está a preparar um modelo de resposta social que integre antigos sem-abrigo em instituições, para que possam “ser um exemplo”.
"A Segurança Social vai passar a incluir nos modelos de resposta social um mecanismo para a discriminação positiva destas respostas sociais que integrem na própria resposta, como colaborador ou trabalhador, uma pessoa que tenha estado na situação de sem-abrigo, precisamente para ser um par e para ser também um modelo e um exemplo de mobilização para outras pessoas", explicou.
A Segurança Social prepara-se para “lançar novos avisos” e, através de novos protocolos, “criar um critério novo de majoração”, na ordem dos “20% para as respostas sociais que integrem pessoas que estiveram na situação de sem-abrigo”.
“Estamos a trabalhar em dois níveis, seja na resposta a quem está em situação de sem-abrigo seja na capacidade de prevenirmos essas situações", sublinhou a governante, garantindo que a prioridade é “encontrar respostas personalizadas para cada uma das pessoas”.
No seu discurso na abertura do encontro, em Leiria, a ministra apelidou de "fazedores de impossíveis" os técnicos das diversas associações que trabalham com os sem-abrigo, que "têm acreditado ao longo destes anos que é possível aquilo que parecia ser impossível para todos". E têm conseguido "voltar a dar humanidade a tantas pessoas que muitas vezes se sentem completamente desenquadradas, perdidas".
Ana Mendes Godinho salientou que a estratégia do Governo contribuiu para ultrapassar a "dificuldade de integração no mercado de trabalho das pessoas em situação de sem-abrigo, exatamente porque não eram considerados públicos vulneráveis".
As medidas previstas têm como "ponto de vista social" garantir que, "como sociedade, não falhamos às pessoas".
"É uma mobilização que tem de ser integral, com capacidade de intervenção em várias dimensões, como já assumimos na Estratégia Nacional de Combate à Pobreza, que, pela primeira vez, identifica que o combate à pobreza tem de ser feito não através de uma medida, não através de ações pontuais ou de caridade, de paliativos ou assistencialismo sem capacidade de transformação", disse.
A ministra acrescentou que o combate à pobreza "tem de intervir desde a capacidade de integração no mercado de trabalho, as qualificações e a capacidade de combate à pobreza infantil, cortando ciclos de pobreza intergeracional, que muitas vezes teimam em persistir".
"Garantindo, por exemplo, que damos às crianças condições de igual acesso, nesta que deve ser uma verdadeira luta real pela inclusão social para todos, independentemente de onde nasceram, em que condições socioeconómicas e em que zona do país nasceram", rematou.