26 out, 2022 - 07:36 • Ana Carrilho
Portugal tem quase 3.9 milhões de pessoas com mais de 55 anos ou seja, 37% da população. Para conhecer as suas ideias, preocupações e hábitos de poupança e consumo, o Centro de Investigación Ageingeconomics da Fundação Mapfre fez um estudo junto de pessoas a viver em Portugal, com mais de 55 anos. As entrevistas, por telefone e online foram realizadas a 1.100 pessoas durante o mês de agosto, garantindo o anonimato. O objetivo é ajudar as entidades, empresas e cidadãos a tomar decisões e no fundo, promover a “economia grisalha”.
Quase metade dos inquiridos revelou que não consegue poupar. Menos do que aqueles que dizem conseguir fazer um pé-de-meia mensal. Destes, três quartos guarda menos de 30% do seu rendimento, mas há 3% que amealham mais de 50% do que recebem. Os mais poupados têm mais de 70 anos.
Face a gastos imprevistos, nove em cada dez agregados garante que pode suportá-los com os rendimentos mensais se não ultrapassarem os 300 euros. Se ascenderem a mil euros, já só 73% o faria e com recurso a poupanças. E mesmo que a fatura atinja os 10.000 euros, um em cada dois agregados pode suportar a despesa sem pedir ajuda. Para os que precisam, a primeira porta a que batem é a da família. Empréstimos bancários, só quando se trata de uma verba avultada.
Entre os 1.100 inquiridos pelo Barómetro do Consumidor Sénior Portugal, 53% revelou que ajuda membros da sua família ou do círculo próximo: quase 42% ajuda os filhos e 5%, os pais. Quase um terço assume que essas pessoas dependem da sua ajuda financeira mensal.
Para estes consumidores com mais de 55 anos, a habitação (e despesas associadas de água, luz, gás), alimentação e bebidas não alcoólicas e saúde estão no topo das despesas. E com o aumento dos preços, quase dois terços dos inquiridos considera que os gastos em habitação e energia e até em alimentação, põem em causa o seu estilo de vida. Tendência que deverá manter-se no próximo ano.
Seja pelo aumento nas faturas seja pela crescente consciencialização ambiental, quando questionados sobre a sua predisposição para hábitos de consumo mais sustentáveis, 85% mostrou-se disponível para o fazer; 81%, para mudar hábitos de consumo energético e três quartos, para influenciar os órgãos de poder com o seu voto, priorizando a transição ecológica. A disponibilidade surge especialmente na faixa etária dos 55 aos 59 anos.
Sete em cada dez inquiridos revela que vive em casa própria e mais de metade já não tem encargos com empréstimo bancário. No entanto, apenas 25% destas habitações tem condições para acolher pessoas com algum tipo de incapacidade ou dependentes. E só 28% dos participantes no inquérito revelou vontade de, futuramente, melhorar a sua casa para a tornar mais acessível. São especialmente os jovens e os que vivem em casas com um maior número de elementos que revelam essa vontade.
Só 16% das pessoas com mais de 55 anos pensa em mudar de casa na próxima década; 70% revela não ter qualquer intenção de se mudar da atual residência.
Futuramente, viver ou não num lar de idosos, é decisão que quase metade dos inquiridos ainda não tomou. Por outro lado, se 30% diz que não se importaria, há outros 23%, que, pelo contrário, recusam a ideia. Os mais resistentes estão nos grupos intermédios dos 60 aos 69 anos.
Para se manterem saudáveis, cerca de 70% dos inquiridos com mais de 55 anos, revelou que tem cuidado com a alimentação e vai regularmente ao médico. Metade diz respeitar as horas de sono, evitar o consumo excessivo de álcool e tabaco, assim como situações stressantes e ainda, praticar exercício físico. No entanto, o cuidado com a saúde emocional, a informação sobre as tendências de saúde ou a meditação, ainda não entraram nos hábitos da maioria dos portugueses.
Pelo contrário, usam a internet como um instrumento de informação, educação e contactos uns com os outros no seu dia a dia e nalguns casos, com maior regularidade do que as gerações mais jovens.
Segundo a Google, quase 30% da população digital sénior está a par das últimas notícias sobre a atividade política e económica.
A vontade de viajar dos maiores de 55 é grande e nem a pandemia os travou, mesmo aos mais velhos. Quase três quartos dos inquiridos viajou desde o início da pandemia durante dois ou mais dias e 10% fê-lo com frequência elevada: mais de 4 vezes/ano. Entre estes estão os maiores de 70 anos.
Viajar é mais fácil para quem tem maior rendimento disponível. Por isso não admira que sejam os que têm mais 3.000 euros mensais a fazer mais viagens. Pelo contrário, quase metade dos que têm menos de mil euros por mês não teve oportunidade de sair em lazer ou turismo.
Para 2023, 85% já faz planos para viagens de turismo, a maior parte em Portugal. Mas mais de 30% elege um destino europeu e quase 15% pretende explorar outros destinos fora da Europa.
Dois terços dos inquiridos acima dos 55 anos considera que o mercado de trabalho não valoriza devidamente a sua experiência profissional. Os mais insatisfeitos são os desempregados (84,6%), os trabalhadores por conta de outrem (76%) e os reformados e trabalhadores por conta própria (62%).
Por outro lado, a desconfiança em relação ao futuro do atual sistema de pensões é grande: dois em cada três considera que está em risco e essa é uma grande preocupação para três quartos dos inquiridos que trabalham por conta de outrem, no grupo dos 55 aos 59 anos.
Os mais precavidos (cerca de um terço) começaram a planear a sua reforma antes dos 45 anos. Pelo contrário, 16% só pensou nisso depois dos 60 anos.
Apesar da instabilidade, do aumento da inflação e dos preços, quase metade dos participantes no Barómetro mostra-se confiante que a partir de agora, a sua situação económica não se alterará; poderá até melhorar. Mas há 45% que não são tão otimistas e preveem uma degradação da sua situação financeira.
Este é o primeiro Barómetro do Consumidor Sénior realizado em Portugal pelo Centro de Investigación Ageingnomics da Fundação Mapfre, mas em Espanha já há várias edições anuais.
Com o envelhecimento da população, a chamada “geração grisalha” assume um papel determinante na economia do país e por isso é importante conhecer os hábitos e comportamentos de consumo destas pessoas com mais de 55 anos, que se querem manter ativas, com saúde e continuar a contribuir para a sociedade. Escolhas que podem impulsionar o desenvolvimento de diversas áreas empresariais associadas ao envelhecimento ativo, promover o empreendedorismo e desenvolver a “economia grisalha”.