23 nov, 2022 - 09:30 • Celso Paiva Sol , João Cunha , Cristina Nascimento
A Polícia Judiciária (PJ) deteve 35 pessoas esta quarta-feira, suspeitas dos crimes de tráfico de seres humanos, associação criminosa e branqueamento de capitais.
Ao que a Renascença apurou, a operação, conduzida pela Unidade de Contraterrorismo e pelo DIAP de Lisboa, envolve mais de 400 inspetores que realizam cerca de 65 buscas no distrito de Beja, em localidades como Beja, Cuba e Ferreira do Alentejo.
Em causa está um esquema de angariação de estrangeiros para trabalhar em campos agrícolas que acabavam a viver e trabalhar sob coação, sem rendimentos e sujeitos a agressões. A notícia foi inicialmente foi avançada pela CNN Portugal.
As autoridades passaram por todos os locais habitualmente usados pelo grupo criminoso e pelas vitimas: casas, armazéns, explorações agrícolas e viaturas.
Os principais visados da operação, que recebeu o nome "Vento do Leste", são uma família romena residente em Portugal há vários anos que angariam trabalhadores, no Leste da Europa, como na Ucrânia ou Roménia, além de países como a Índia, Paquistão ou Timor.
Atéa o momento foram detidas 35 pessoas, a maioria de nacionalidade romena, mas também alguns portugueses que trabalhavam para a organização. Segundo a Polícia Judiciária, os detidos são homens e mulheres, com idades entre os 22 e os 58 anos.
A angariação é feita ainda nos países de origem com promessas de alojamento, condições de trabalho e salários dignos, que, depois, não se verificam. Os trabalhadores eram recrutados através de empresas de recrutamento de mão-de-obra criadas para este efeito para trabalhar em campos agrícolas no Alentejo e centro do país.
Uma vez em Portugal, através de coação, ameaças e mesmo agressões físicas, estas pessoas viviam em condições degradantes, trabalhavam muito mais do que era suposto e pouco recebiam do ordenado que era pago pelas explorações agrícolas às tais empresas de fachada.
A investigação decorre há cerca de um ano.
No decorrer da operação desta manhã os inspetores da Judiciária encontraram dezenas de vítimas, que entretanto encaminharam para o Alto Comissariado para as Migrações e para a Segurança Social. Entre as vítimas havia romenos, moldavos, marroquinos, argelinos, senegaleses e indianos.
Ouvido pela Renascença, o presidente da Junta de Freguesia de Vila Nova de Milfontes, Francisco Lampreia, no concelho de Odemira, diz que esta operação já "era esperada há muito tempo".
“As autoridades já tinham sido alertadas várias vezes para esse tipo de situação. Ainda bem que está no terreno e espero bem que façam um bom trabalho e que acabem com esta situação porque há muita gente escravizada que lhes cobram cinco, dez mil euros para os trazer para cá e que depois os escravizam", descreve.
O autarca assegura que "o poder económico dessas pessoas que estão a fazer esse tipo de tráfico é muito grande" e que "está a ganhar cada vez mais dimensão também no nosso território”.
[notícia atualizada às 11h14]