07 dez, 2022 - 10:20 • Lusa
As mortes por "overdose" aumentaram 45% no ano passado face a 2020. É o valor mais alto desde 2009, segundo o relatório nacional que destaca o "valor atípico" de presença de metadona nestes casos (41%).
Os dados constam do Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependência em 2021 do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) que é apresentando, esta quarta-feira, numa audiência na Assembleia da Republica pelo diretor-geral do SICAD, João Goulão.
O documento destaca também que o número de mortes por "overdose" com cocaína (51%) foi o mais elevado desde 2009. Em 39% dos óbitos foi detetada a presença de opiáceos.
Segundo o relatório, os valores registados nos últimos quatro anos de "overdoses" com cocaína e com opiáceos foram os mais altos desde 2011.
Na grande maioria (84%) das "overdoses" havia mais do que uma substância, destacando-se as benzodiazepinas (58%) e o álcool (22%).
Além das 74 mortes por "overdose", foram registados outros 339 óbitos por outras causas e que apresentaram resultados toxicológicos positivos, um número que tem vindo a aumentar desde 2016, atingindo em 2021 o valor mais alto desde 2008.
Os dados indicam que 42% destas mortes foram atribuídas a morte natural, 36% a acidentes, 13% suicídio e 3% homicídio.
No ano passado, estiveram em tratamento 23.932 utentes com problemas relacionados com o uso de drogas no ambulatório da rede pública, referem os dados, salientando que, dos 3.236 utentes que iniciaram tratamento, 1.538 eram readmitidos e 1.698 novos utentes.
Apesar de ter havido um ligeiro aumento (inferior a 2%) entre 2020 e 2021 dos utentes em tratamento no ambulatório, após as descidas nos quatro anos anteriores, ainda está "muito aquém dos valores pré-pandemia".
Na rede pública e licenciada registaram-se 440 internamentos relacionados com o uso de drogas em Unidades de Desabituação (mais 45% relativamente a 2020) e 1.980 em Comunidades Terapêuticas (+8%), correspondendo a 52% e 56% do total de internamentos nestas estruturas.
"Estes internamentos aumentaram face a 2020, ano em que houve decréscimos relevantes devido à pandemia, após a tendência de estabilidade entre 2016-2019", refere o relatório, observando que o número de internamentos em comunidades terapêuticas já está próximo dos valores pré-pandemia, mas os das unidades de desabituação ainda estão "muito aquém".
Apesar de a heroína continuar a ser a droga principal mais referida entre os utentes em ambulatório e nas Unidades de Desabituação, no caso dos utentes das comunidades terapêuticas e dos novos utentes em ambulatório, a cocaína e a canábis são predominantes.
Em 2021, os consumos recentes de droga injetada variaram entre 3% e 14% nos vários grupos de utentes em tratamento, e as práticas recentes de partilha de seringas totalizaram entre 9% e 28% nos consumidores de drogas por via injetável.
"Considerando a heterogeneidade dos perfis demográficos e de consumo dos utentes em tratamento, torna-se essencial continuar a diversificar as respostas e a apostar nas intervenções preventivas de comportamentos de consumo de risco", defende o relatório.
O mesmo inquérito revela que os episódios de embriaguez aumentaram junto dos jovens de 18 anos.
Apesar do consumo de álcool entre 2018/2021 ter-se mantido estável, houve um aumento expressivo de fenómenos como o “binge”, ou seja, o consumo feito num curto espaço de tempo.
Cerca de 10% destes jovens declarou consumir álcool diariamente.
Os consumos continuam a ser mais expressivos nos rapazes e o Alentejo é a região que surge com valores mais elevados.
As mortes por intoxicação alcoólica também aumentaram 32%.
Além destas 41 mortes, foram registados mais 973 óbitos positivos para o álcool e com informação da causa de morte, 34% foram atribuídos a morte natural, 32% a acidente, 12% a suicídio e 4% a intoxicação alcoólica.
Cerca de 32% destes óbitos foram positivos só para o álcool, e em 39% foram detetados só álcool e medicamentos, sobretudo benzodiazepinas.
Das 148 vítimas mortais de acidentes de viação que estavam sob a influência do álcool, 82% eram condutores, 13% peões e 5% passageiros.
Em 2021, estiveram em tratamento no ambulatório da rede pública 13.242 utentes com problemas relacionados com o uso de álcool. Dos 4.478 que iniciaram tratamento no ano, 1.320 eram readmitidos e 3.158 novos utentes.
As apreensões e as quantidades confiscadas de todas as drogas que tinham sofrido uma quebra em 2020 aumentaram em 2021, sendo uma vez mais o haxixe a substância com o maior número de apreensões (1.081).
A seguir ao haxixe, as substâncias ilícitas com mais apreensões foram a cocaína (513) e a liamba (449) e, com valores inferiores, a heroína (270) e o 'ecstasy' (77), adianta o Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependência em 2021 do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD).
O relatório assinala, pela primeira vez no âmbito destes registos, apreensões de MDMB-4-en-PINACA (canabinoide sintético), de 4-CMC e de alfa-PHP (ambas substâncias estimulantes).
Segundo os dados, houve "um incremento significativo da liamba apreendida" em 2021, o valor mais elevado desde 2010, e descidas nas quantidades confiscadas de haxixe, apesar de ser o segundo valor mais alto desde 2015, e de 'ecstasy', o valor mais baixo desde há sete anos.
As quantidades apreendidas de cocaína e de heroína foram próximas às de 2020, sendo os valores dos últimos três anos os mais altos desde 2007 no caso da cocaína, e os mais baixos de sempre no caso da heroína.
Os dados referem também que, entre 2020 e 2021, houve um aumento das apreensões de haxixe (+49%), de heroína (+29%) e de cocaína (+28%), e ligeiras descidas das de liamba (-3%) e de 'ecstasy' (-3%), mas tendencialmente inferiores aos dois anos anteriores, pré-pandemia, exceto no caso da liamba e da heroína.
O relatório realça as quantidades confiscadas nos últimos dois anos de plantas de canábis, "os valores mais altos do milénio", e de plantas de ópio, os valores mais altos desde 2009.
Quanto às rotas, o documento adianta que "Portugal tem sido um país de trânsito no tráfico internacional de haxixe e de cocaína, em particular nos fluxos oriundos, respetivamente, de Marrocos e da América Latina e Caraíbas, e com destino a outros países, sobretudo europeus".