09 dez, 2022 - 03:40 • Lusa
O Presidente da República considerou que a União Europeia esteve em “autocontemplação” e “continua a não saber encontrar maneira de se relacionar com África”, relembrando que, além da Ucrânia, há outros focos no mundo que ameaçam a paz.
Marcelo Rebelo de Sousa assumiu esta posição na Igreja de São Domingos, em Lisboa, esta quinta-feira, onde inaugurou, em conjunto com a ministra da Defesa Nacional, uma mostra expositiva alusiva à vigília da Capela do Rato, que começou em 30 de dezembro de 1972, e participou numa conversa sobre o tema “A Paz é Possível: afirmação impossível?”, organizada pela Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de abril.
Na sua intervenção, dedicada em grande parte à temática da paz, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que, desde os anos 1960, 1970 e 1980, “as instituições, mesmo as instituições democráticas, nacionais e internacionais, pararam e, em muitos casos, acharam que era suficiente o formalismo ‘funciona assim porque funciona assim, e vai funcionar assim’”.
Marcelo Rebelo de Sousa considerou que esta inércia das instituições também incluiu a União Europeia (UE), que “parou em muitos casos em autocontemplação, porque era democrática e considerava que era muito melhor do que outras realidades que existiam no mundo”.
“Em termos de algumas liberdades era, e é, (…) mas [a Europa] não está a ser capaz de enfrentar vários problemas efetivos das pessoas, uns dentro dela, outros na abertura para o exterior. A Europa continua a não saber encontrar maneira de se relacionar com África e, no entanto, há aí uma relação que é óbvia”, criticou.
Para Marcelo Rebelo de Sousa, “continua a haver muito nacionalismo no mau sentido do termo, muito chauvinismo, muita xenofobia - aquela de que se fala muito e aquela que é dos próprios Estados - e isso não contribui para a paz”.
O Presidente da República considerou que, quando se diz que “o mundo viveu em paz, a Europa viveu em paz”, isso consiste numa “facilidade de expressão”, relembrando que, nos últimos anos, a Europa viveu “com guerras internas em vários dos seus Estados” e nas suas periferias, mas também “com guerras por todo o mundo em que a Europa não era alheia, por ação ou por omissão”.
“Portanto, não vamos ser tão simplistas quanto isso - eu percebo que se tem que ser simplista quando se está a exercer política, tem que se tomar uma posição política perante cada caso - mas não vamos esquecer os outros casos todos, parece que só há uma guerra no mundo”, disse, com a ministra da Defesa Nacional a seu lado.
Marcelo relembrou que, além da Ucrânia, que “tem o foco principal da atenção”, também “há gente a morrer em África, há gente a morrer na Ásia, há gente a morrer, menos porventura, que se saiba, na América Latina”.
“Isto é desvalorizar o que se passa na Ucrânia? Não, porque ali o envolvimento das potências é maior, porque ali a determinante na balança de poderes é maior, ou mais visível, pelo menos. Significa uma nova ordem internacional? Veremos, veremos, veremos, porque isso é muito mais do que uma nova balança de poderes”, vincou.