15 dez, 2022 - 14:10 • Tomás Anjinho Chagas
“Tudo! Ficou tudo destruído”, é assim que Carlos Rodrigues, empregado do restaurante Le Petit D’Algés, responde à pergunta "o que é que ficou estragado?".
As ruas da zona baixa de Algés, no concelho de Oeiras, tornaram-se rios por duas vezes nas últimas semanas. Esta quinta-feira, altura em que foram visitadas pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, e pelo eterno autarca oeirense, Isaltino Morais, sobravam apenas poças e a lama deixada pela água.
Nesta altura do ano, a Rua Major Afonso Palla - conhecida informalmente como a Rua das Estátuas - estaria cheia de pessoas e clientes. Mas depois das cheias, o que se vê são empregados com vassouras na mão, a tentar expulsar os vestígios da chuva que teima em permanecer dentro dos estabelecimentos.
É a segunda vez que acontece, e a segunda foi mais violenta: “Em quatro dias voltámos a pôr o restaurante a funcionar. Na madrugada de terça deu-se outra vez isto, desta vez foi 100% de estragos. Foi muito pior”, garante Carlos Rodrigues à Renascença.
O restaurante é dos mais famosos (e antigos) de Algés, e procura reerguer-se a tempo da quadra natalícia: “Convém faturar. É o Natal, o mês em que se faz um bocadinho mais de dinheiro”, suspira atarefado, com as mãos enlameadas enquanto vai estendendo objetos encharcados.
Do outro lado da rua, a escassos dez metros de distância, há uma peixaria. Durante duas noites foi a margem contrária do rio que se formou nesta via. A Pescacerta, composta por bancas e arcas frigorificadas, não tem peixe. A água entrou, inundou o espaço e deixou as arcas “todas aos trambolhões”, descreve Carla Ferreira, proprietária do espaço.
Esta mulher tem a voz embargada e os olhos húmidos. Diz que as cheias “destruíram tudo” e que os equipamentos eram novos (com oito meses de vida). Antevê um prejuízo de “meio milhão de euros, só em produto foram 70 mil euros”.
O desânimo tem origem na repetição da desgraça: duas inundações no espaço de uma semana. “A segunda foi pior. Está tudo partido”, desespera Carla Ferreira em declarações à Renascença.
“É uma corrida contra o tempo”, assinala esta lesada do mau tempo. Os dias passam e encurtam a distância do presente ao Natal, altura de maior faturação para quase todos os negócios. E apesar de alguns espaços terem boas perspetivas para a reabertura, Carla Ferreira é menos otimista: “Gostávamos, mas só se houvesse muitas mãos milagrosas aqui a trabalhar. Acho muito difícil”.