23 dez, 2022 - 06:46 • Teresa Paula Costa
Cinco meses depois dos incêndios que assolaram o país, há corporações de bombeiros que ainda não receberam do Estado o pagamento das despesas de alimentação e de toda a logística envolvida no combate às chamas.
No caso dos concelhos onde a área ardida foi superior os 2,5 hectares, o Estado pagou já cerca de 80% das despesas às associações humanitárias, mas o restante está ainda por liquidar.
Foi o que aconteceu em Alvaiázere. Neste concelho do distrito de Leiria, que perdeu três mil hectares de floresta, a associação humanitária não sabe mais o que fazer. Segundo o comandante Mário Gomes, falta liquidar cerca de 45 mil euros da despesa com combustível, logística e reparação de viaturas de combate aos incêndios.
Esta é uma situação que “condiciona” a corporação, já que “tivemos de fazer pagamentos aos nossos fornecedores e esse dinheiro faz-nos falta para comprar equipamentos, viaturas, e aquilo que é preciso para a gestão do dia a dia”, revelou Mário Gomes.
Acrescem ainda as despesas que também o Ministério da Saúde não liquida no prazo desejado, levando, muitas vezes, sete meses para pagar. “Um mal crónico de há muitos anos”, lamenta o comandante que acredita que essa será uma das razões que, no futuro, levarão algumas corporações de bombeiros a fechar portas.
“As despesas são cada vez maiores, a atualização daquilo que o Estado nos paga não compensa aquilo que, na realidade, devia pagar, e com a inflação e o aumento dos preços generalizado dos consumíveis dos bombeiros, temos tido muitas dificuldades”, admite Mário Gomes.
Questionado se a associação já se recusou a fazer algum serviço por falta de dinheiro, o comandante negou. “A capacidade operacional está a 100%”, frisou.
“Os bombeiros não fazem greves nem protestos com chantagem, nós damos o melhor de nós em cada dia”, acentuou.
No concelho de Pombal, os Bombeiros Voluntários têm a receber do Estado cerca de 125 mil euros de despesas com alimentação, reparação e compra de equipamentos.
Sérgio Gomes, o presidente da direção, contou que, contrariamente ao que lhe foi transmitido na altura dos incêndios, não foi feito nenhum adiantamento e até este momento, nada foi pago. “Como habitualmente pagamos aos nossos fornecedores a 60 e 90 dias, já tivemos que pagar tudo aquilo que se consumiu, tudo o que adquirimos nesse período e estamos agora a passar alguma dificuldade tendo em conta os constrangimentos que este atraso nos está a trazer”.
Acredita que, até ao final do ano, a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, vai transferir o dinheiro “para não transitarem despesas para o ano seguinte, mas eles têm de transferir o dinheiro é quando as associações precisam dele.”
“Tenho dois fornecedores a quem devo 45 mil euros e a quem ainda não paguei porque tive de optar entre pagar o 13º mês a 50 funcionários ou pagar aos fornecedores e é evidente que paguei ao pessoal”, explicou o dirigente. “Mas vou ter que lhes pagar até ao final do ano”, acentuou.
Também por uma questão de “sentido de missão” a corporação não recusou qualquer serviço.
No concelho de Ourém, onde arderam mais de cinco mil hectares, as despesas totais chegaram aos 400 mil euros.
Deste montante, o Estado tem ainda a pagar aos bombeiros voluntários cerca de 100 mil euros.
Um problema que a nova direção, que por estes dias, toma posse, vai ter em mãos para resolver.