11 jan, 2023 - 06:30 • Rafael Duarte
Sentem-se abandonados depois do serviço de radiocirurgia ter sido transferido para uma empresa de Sevilha. A decisão, na sequência de um concurso público internacional, está a ser contestada pelos algarvios que exigem que os doentes oncológicos sejam tratados na região aos cuidados do serviço público nacional.
"São tratamentos altamente invasivos. Nós o que achamos é que o Estado português expulsou os doentes com cancro para território estrangeiro."
A indignação levou à criação do Movimento em Defesa dos Doentes com Cancro, do qual João Martins faz parte. "Havia uma outra empresa, em Faro, com competência para fazer o mesmo serviço e o que nos parece um escândalo é ter sido atribuído a uma empresa em Espanha que faz com que os doentes com cancro, se forem de Faro, tenham que fazer 200 quilómetros para lá e 200 quilómetros para cá. E se forem de Sagres, Vila do Bispo ou Aljezur, 300 quilómetros para lá e 300 quilómetros para cá."
Por vezes, estes quilómetros são feitos em vão. "Sabemos que há casos de pessoas que chegaram a Espanha e que as máquinas estavam avariadas. Voltaram para trás e fizeram os tratamentos em Faro. E nós não sabemos como é que estão a ser tratados nessa empresa privada porque não sabemos que controlo é que o Estado português está a fazer sobre o serviço que está a ser prestado."
A Associação Oncológica do Algarve e o Movimento em Defesa dos Doentes com Cancro esperam passar a mensagem depois de serem ouvidos no parlamento. "O ministro da Saúde, Manuel Pizarro, já disse que vai dedicar a sua melhor atenção para garantir que passa a haver uma resposta pública plena no Algarve, mas até ao momento não vimos nada disso."
João Martins deixa ainda críticas ao Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA). "Uma primeira questão que surgiu foi quando o Conselho de Administração do CHUA abriu um concurso internacional para a radioterapia, o que significava que os doentes do Algarve com cancro tinham que se deslocar diariamente para Sevilha. Houve uma contestação social forte no Algarve e a empresa espanhola desistiu."
Ainda assim ,avançou a atribuição dos tratamentos de radiocirurgia. "A expulsão para território estrangeiro, no limite, se aparece uma empresa de Madrid, Barcelona ou na China levava os doentes com cancro para tratamento para qualquer zona do globo."
Os doentes com cancro no Algarve não vão desistir de lutar contra uma decisão que consideram ser muito grave.