31 jan, 2023 - 16:00 • Teresa Paula Costa
O edifício onde funcionou o seminário da ordem religiosa de S. Domingos (Dominicanos), mais conhecido por Casa da Criança da Aldeia Nova, no concelho de Ourém, vai, a partir de abril, receber feridos da guerra na Ucrânia.
Desenvolvido pela associação de solidariedade Ukrainian Refugees (UAPT), sedeada em Lisboa, em colaboração com o Ministério da Saúde ucraniano e o Hospital da CUF, o projeto surgiu na sequência do trabalho de resgate e acolhimento de refugiados que a associação tem vindo a realizar.
Vendo a seriedade e o empenho da associação, o Ministério da Saúde ucraniano pediu-lhe apoio no tratamento dos feridos de guerra, pois atualmente eles são tratados em hospitais que, devido aos bombardeamentos, ficaram sem condições.
Mediante o pedido, a UAPT contactou a administração do Hospital da CUF, que aceitou colaborar, tendo o protocolo sido já assinado.
Segundo o tesoureiro da associação, será a CUF, nas unidades de Lisboa, Porto e Coimbra, “a tratar a parte mais complicada do processo, a cirúrgica”. Depois disso “eles vêm para o centro de Ourém para fazer a recuperação”, física e psicológica.
Ângelo Neto diz tratar-se de “um lugar sossegado onde eles vão ter todas as condições para, do ponto de vista psicológico, fazerem a recuperação”.
Com capacidade para acolher “entre 100 a 150” doentes, o centro vai ter vários profissionais da saúde que serão recrutados na região de Ourém.
O objetivo é “conseguir trazer a primeira leva de feridos na última semana de abril ou primeira de maio”, disse Ângelo Neto. Serão “30 feridos que não estejam em perigo de vida”.
Nesta altura, os voluntários retiraram já o entulho do edifício, dando-se, de seguida, início aos trabalhos de cablagem e pintura das paredes, para, depois, se instalar os equipamentos. Cerca de meio milhão de euros, a angariar junto de mecenas e empresas privadas, é o orçamento previsto para a preparação do edifício.
A associação, uma instituição particular de solidariedade social, fez já seis voos humanitários, um deles com o Presidente da República, para levar medicamentos e géneros alimentícios e trazer refugiados.
Chegou a ter cinco centros de acolhimento no país, dos quais mantém atualmente dois, sendo um em Mafra, no antigo Palácio dos Marqueses de Ponte de Lima, que acolheu e integrou já mais de 10 mil refugiados, sobretudo, nos setores da hotelaria e turismo.
“Eles querem muito continuar a viver em Portugal e, uma vez integrados, dedicam-se muito ao trabalho”, disse Ângelo Neto, destacando também a vantagem do “clima mais ameno”.
O contrato de cedência gratuita do espaço foi estabelecido por um prazo de sete anos, mas a associação ainda ficará com o edifício durante mais sete anos.
Findo esse prazo, revelou Ângelo Neto, “toda a estrutura que está a ser montada vai ficar de apoio a outros refugiados que vierem de outras catástrofes ou guerras, e à comunidade carenciada da localidade”, sendo “um legado que a associação quer deixar para a comunidade em Ourém”.