03 fev, 2023 - 23:10 • Filipa Ribeiro
Manuel Oliveira tem mais de 74 anos, preparou-se esta sexta-feira para participar na segunda vigília deste ano de moradores do bairro do Condado, na Zona J de Chelas, em Lisboa.
Quer muito contribuir para que sejam resolvidos todos os problemas do bairro. Quando se mudou com a mulher para a Zona J de Chelas, há 43 anos, foi-lhe prometido que 20 anos depois de pagar a renda a casa lhe seria dada.
Atualmente, continua a pagar uma renda de 100 euros por uma casa, cada vez mais degradada. À Renascença, Manuel Oliveira diz que, quase diariamente, é obrigado a subir e descer 11 andares, porque o elevador está avariado.
Tanto Manuel como a mulher são doentes oncológicos. Manuel Oliveira chega a fazer o percurso das escadas mais que uma vez para ir à farmácia. “Que remédio!”, desabafa.
Confessa que pouco depois de se ter mudado para o bairro, em 1980, ocorreram umas chuvadas na cidade que deram início aos problemas de infiltrações que perduram até hoje.
Já assistiu a momentos bons e maus no bairro, mas confessa “que há quatro anos que tudo tem piorado”, ano em que tiraram a esquadra da Polícia e os Correios.
Habitação
Preço das casas disparou em média 38% desde 2019. (...)
O único serviço que têm no bairro do Condado é o Centro de Saúde, que também deixa a desejar, de acordo com Manuel Oliveira, que ainda na última semana soube que ficou novamente sem médica de família dias depois de “ter feito exames” para avaliar a condição de saúde. “Tem sido um caos, têm ótimas instalações, mas pouca assistência”, lamenta.
O bairro do Condado está a cargo da Gebalis, empresa escolhida pela Câmara Municipal de Lisboa. De acordo com os moradores, na última vigília, no início de janeiro, esteve no local um representante da empresa a tomar nota dos problemas, mas até agora nada feito.
A última intervenção nas casas foi feita há quatro anos. Mudaram o telhado de um dos prédios que era ainda de amianto.
Alberto Ribeiro é morador nesse prédio. À Renascença, dá a nota de que a casa ficou pior depois da intervenção porque a obra ficou inacabada, uma vez que partiram a placa e não terminaram o isolamento do telhado.
“Todos os dias escolho onde posso dormir, o meu quarto não dá, está cheio de infiltrações, completamente preto e tenho receio de apanhar alguma doença, durmo na sala”, conta Alberto Ribeiro.
Sempre atenta a ouvir as queixas dos vizinhos está Maria do Carmo que aos 69 anos sofre com vários problemas de mobilidade. Há um ano que lhe foi prometido que iriam substituir a banheira que tem em casa. “Sempre que vou para a banheira benzo-me. Tenho medo de cair e de nunca mais conseguir sair de lá”.
A filha tem ido lá a casa ajudar a limpar as paredes que constantemente ficam com bolor. “Tenho a noção de que estou a viver os meus últimos dias, assim, sem qualidade”, diz Maria do Carmo.
Reunião marcada para 16 de fevereiro. Disponibiliz(...)
Cecília Fonseca, moradora na Zona J há mais de 30 anos, conseguiu comprar um dos apartamentos. Como proprietária tem a casa com todas as condições de habitabilidade, mas confessa que cada vez mais tem receio de levar convidados ao prédio, devido à falta de segurança.
“Vivo num prédio onde estão 86 famílias, sem que haja qualquer tipo de segurança ou fiscalização. Deixam lixo nos corredores que se pode incendiar a qualquer momento, e há quem viva em apartamentos T4, sozinho”, diz Cecília Fonseca.
A moradora condena a falta de fiscalização no prédio e a atribuição de apartamentos que está a ser feita de forma errada, uma vez que as casas com mais quartos poderiam servir famílias maiores.
A moradora e proprietário no bairro do Condado diz que todos os dias a polícia passa pelas ruas, mas o problema é à noite e o que se vai passando dentro dos próprios prédios. “A segurança está cada vez mais degradada”, afirma.
As vigílias de moradores no Condado têm sido organizadas por jovens que vivem no bairro há seis anos e que não conseguem ficar indiferentes à degradação. À Renascença, Juno Charters diz que “há prédios onde todos os moradores têm ou já tiveram cancro, por causa da falta de condições de habitualidade, desde os materiais da casa até á própria humidade”.
Todos os problemas que têm sido apontados pelos moradores nestes encontros vão ser entregues a 16 de fevereiro à Assembleia Municipal. Se não houver resposta, os prometem continuar a fazer barulho até serem ouvidos.