08 fev, 2023 - 13:13 • Rafael Duarte
Cirurgia de ambulatório fechados e bloco operatório com adesão à greve de 100%, o que fez com que fossem adiadas as cirurgias não urgentes. A greve dos enfermeiros no Algarve teve 80% de adesão em Portimão e cerca de 70% em Faro.
Ana Margarida Rita é enfermeira há 22 anos e faz parte dos 100% que aderiram à greve do bloco operatório de Portimão. À Renascença, não escondeu o descontentamento.
"Eu sou uma das pessoas que muitas vezes costuma integrar novos enfermeiros e alunos e já me custa dizer-lhes para continuarem a investir na área da saúde e principalmente da enfermagem porque apesar de gostar muito do que faço sinto-me descriminada em relação às outras profissões e acho que o ordenado que recebo não é digno para aquilo que eu faço".
Tal como Ana Margarida Rita, também Pedro Dias trabalha no bloco operatório de Portimão, que tem cerca de 45 enfermeiros, e sente-se injustiçado.
"No ano de 2018 a administração que estava no Hospital iniciou o processo de descongelamento de carreiras da Unidade Hospitalar de Lagos, ou seja, os nossos colegas de 2018 de Lagos foram progredidos e receberam os retroativos do ano de 2018. Todos os outros foram esquecidos e agora dizem que nós, o resto da Unidade Hospitalar, que vai de Portimão até Faro, só vão receber de janeiro de 2022. Na mesma instituição tivemos dois pesos e duas medidas".
A greve que acontece depois do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) ter desmarcado uma reunião marcada com o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP). Uma decisão que vem agravar o descontentamento destes profissionais. "É uma atitude de cobardia por parte da Administração do CHUA que prefere protelar as decisões e com este tipo de atitude aumentar a revolta dos colegas", afirma Guadalupe Simões, do SEP.
O SEP diz ainda que o CHUA não justificou esta decisão, mas acredita que a reunião foi desconvocada porque não havia resposta para estes profissionais. "Achamos que provavelmente não tinham a resolução para aquilo que são as nossas reivindicações, ou seja, era uma reunião que, à semelhança da primeira, não ia dar em nada", lamenta Sónia Lopes, também do SEP.
Quando se fala na falta de profissionais de saúde no Algarve, para o SEP estas decisões só pioram a situação. "Não ajuda e tínhamos aqui uma oportunidade realmente boa para que este Conselho de Administração fixasse os profissionais que estão na região. Na região estão em falta cerca de 500 profissionais e isto são dados pré-pandémicos, por isso, já devem faltar mais e no CHUA estão em falta cerca de 300 a 350 enfermeiros", refere Sónia Lopes.
Os enfermeiros exigem a contabilização dos pontos e o pagamento dos retroativos de 2018.