08 fev, 2023 - 07:00 • Cristina Nascimento
Terminam esta quarta-feira as greves distritais convocadas pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof), mas a luta nas escolas está para durar. É o que garantem quer os sindicatos, quer o especialista em economia do trabalho Hugo Vilares.
“Não vejo neste momento que tenha havido significativos avanços, nem se vê uma urgência significativa que augure o fim deste período de conflitualidade laboral”, explica à Renascença Hugo Vilares, professor da Faculdade de Economia do Porto, lembrando também que “ainda não se vê grandes maratonas de negociação, que é o que tende a levar a maiores pontos de encontro”.
Os sindicatos de professores reclamam do Governo várias medidas, entre as quais a recuperação do tempo de serviço dos docentes, bem como o acesso ao 5º e 7º escalão e maior estabilização da carreira.
Hugo Vilares lembra que responder a parte das reivindicações tem impacto nas contas públicas e, por isso, “o acordo é muito difícil”.
“Não há grande margem orçamental e tudo o que for dado em termos de progressões de carreira, em termos de valorização salarial neste setor tem que ser replicado para outros, caso contrário podemos iniciar aqui um percurso de gincana de greve em greve setorial que vai disromper a economia ao longo deste ano”, alerta o especialista.
Apesar da luta prolongada no tempo, os sindicatos mostram-se determinados em continuar. Esta quarta-feira terminam as greves distritais, para dia 11 de fevereiro está marcada uma manifestação nacional nas ruas de Lisboa e na próxima semana serão ouvidos os professores.
“Vamos fazer para a semana, depois da manifestação, um dia de consulta aos professores nas escolas. A ideia poderá ser repetir as greves por distritos, fazer greves por zona pedagógica o que dava greves até ao fim do ano [letivo] e estamos dispostos a fazê-lo”, assegura o secretário-geral adjunto da Fenprof, Feliciano Costa, salvaguardando, no entanto, os resultados da auscultação que será feita nas escolas.
O sindicalista diz que “a leitura que muitos fazem é que os professores não estão com disponibilidade para parar e que já perceberam que este é o momento de conseguir”.
“Penso que o ministro e o Governo tem que fazer essa leitura também e se ainda não fez, acho que há ali um problema de miopia política”, refere.
Professores em luta
Contas avançadas à Renascença por especialista em (...)
Também João Dias da Silva, secretário-geral da Federação Nacional de Educação (FNE), assegura que os docentes e outros profissionais do setor da educação continuam empenhados em querer continuar a luta.
Recordando outros períodos de contestação no setor, Dias da Silva lembra que já existiram outros momentos de luta laboral muito prolongada, nomeadamente, no tempo da antiga ministra Maria de Lurdes Rodrigues.
“A revolta na altura também foi muito, muito intensa”, recorda, lembrando que os professores “tiveram uma intervenção muito forte de rejeição daquilo que era a divisão dos professores em duas categorias”.
“A intensidade com que os professores neste momento rejeitam as propostas do Governo é idêntica”, assegura.
O conflito laboral aberto no tempo de Maria de Lurdes Rodrigues começou em 2006/2007 e só terminou com a assinatura de um acordo em 2010. Dias da Silva lembra que a atual luta não começou agora, já vem de trás, e “mesmo não sabendo quanto tempo é que vai durar, imagina que, no fim, terá uma duração bastante superior” à luta sindical finda em 2010.
Em declarações à Renascença, o secretário-geral da(...)
Nesta luta laboral que está em curso pelo menos desde o início deste ano letivo, há um sindicato que tem ganhado protagonismo: o S.T.O.P.
Liderada por André Pestana, esta força sindical tem sido a responsável por sucessivas paralisações por tempo indeterminado e pela mobilização de milhares de professores, com um tipo de discurso menos habitual.
O especialista em economia do trabalho, Hugo Vilares, considera que estamos perante uma “nova vida do sindicalismo”, que “já era esperado”. Este especialista lembra que os docentes têm tido perdas significativas do poder de compra face a uma crescente inflação e uma estagnação salarial.
“É normal que há-de haver um momento em que os trabalhadores reagem e quando não encontram solução na sua representação tradicional, vão encontrar outras formas de representação e o S.T.O.P. acaba por espelhar isso”, explica.
Hugo Vilares admite até que este tipo de novos sindicatos surja noutras áreas, nomeadamente na “saúde e transportes que são setores tradicionalmente também com levas de conflito laboral significativas”.
A Renascença procurou falar com o S.T.O.P, um dos sindicatos que tem assumido protagonismo nesta luta sindical, mas ninguém se mostrou disponível para prestar esclarecimentos sobre o seu papel e a sua visão sobre as negociações em curso com o Governo.