08 fev, 2023 - 09:30 • André Rodrigues
As greves no setor da Educação vão ser cada vez mais “disruptivas, agressivas e intransigentes”, admite à Renascença o economista Pedro Brinca, professor da Nova SBE.
Na perspetiva deste especialista, essa é a consequência dos “movimentos de greve relativamente inócuos” dos sindicatos tradicionais, como a Fenprof e a FNE.
O "efeito STOP" nas paralisações do setor da Educação resulta de “alguma incapacidade por parte dos dirigentes sindicais tradicionais em perceberem o quão zangadas as pessoas estão”.
Pedro Brinca lembra que “2022 foi um ano em que quem vive do seu rendimento perdeu poder de compra, apesar da economia ter crescido 6,7%. E essas pessoas foram muito mais seduzidas por uma forma mais radical e intransigente de luta”.
E, desse ponto de vista, “o STOP tem sido mais feliz em capturar este sentimento de revolta de uma classe inteira”.
“A minha surpresa é isto só ter surgido agora. Quando em abril de 2022 o Orçamento do Estado foi aprovado com um cenário macroeconómico de 4% de inflação, na altura, com um aumento de salário da Função Pública de 0,9%, eu na altura previ que seria o fim da paz social. Fiquei muito surpreendido que tivéssemos vivido um ano de 2022 relativamente pacífico”, acrescenta Pedro Brinca.
Questionado sobre a possibilidade de o Governo atender às reivindicações dos professores, que pedem contabilização do tempo total de serviço, aumentos salariais e um novo sistema de recrutamento, Pedro Brinca admite que Governo dispõe de verba, mas “tem sido muito renitente em assumir aumentos permanentes de despesa”.
“Podemos entrar naquele discurso fácil de dizer que, se calhar, o dinheiro que entrou na TAP dava para pagar 10 anos de reposição do tempo integral dos professores. Esse é um discurso fácil - até um pouco populista - e não é por ser fácil que ele deixa de ser verdadeiro”, refere.
No entanto, para este docente da Nova SBE, a contestação do pessoal da Educação não é só uma questão de ordenados ou de reposição do tempo integral de serviço dos professores.
“Há também as más condições das salas de aula, os computadores, a velocidade da internet. Li relatos de professores que tinham de ligar os dados móveis dos seus telemóveis porque a internet da escola não funcionava durante as aulas. Isso é consistente com a insuficiência do investimento público nos últimos 10 anos para manter a qualidade das infraestruturas”, remata.