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Ramalho Eanes "desgostoso" com polémica na Marinha

20 mar, 2023 - 19:12 • Lusa

Antigo Presidente da República diz que "o país hoje não tem nada a ver com o Portugal que era antes do 25 de Abril", mas falhou na definição de "um projeto de vida em comum, que fizesse com que todos se sentissem unidos no trabalho para chegar a um objetivo".

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O antigo chefe de Estado português Ramalho Eanes afirmou hoje que o caso dos 13 militares que se recusaram a embarcar no navio Mondego, deixou-o "desgostoso" enquanto militar e cidadão, recusando tecer mais comentários.

"Obviamente que tenho uma opinião e devo dizer que tudo isto me desgostou profundamente, enquanto militar e enquanto cidadão. Mas, não vou substituir-me a quem, no Estado, tem a responsabilidade de comentar esta questão e, inclusivamente, esclarecer os portugueses sobre aquilo que se passa", afirmou o general Ramalho Eanes em Castelo Branco.

O NRP (Navio da República Portuguesa) Mondego não cumpriu na noite do passado dia 11 uma missão de acompanhamento de um navio russo a norte da ilha do Porto Santo, na Madeira, porque 13 dos militares da guarnição (quatro sargentos e nove praças) se recusaram embarcar por razões de segurança.

O chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Gouveia e Melo, em declarações, na quinta-feira, no Porto do Funchal, criticou os militares do navio Mondego que desobedeceram às ordens, considerando que o caso é de "uma gravidade muito grande" e que a "Marinha não pode esquecer, ignorar ou perdoar atos de indisciplina".

O antigo Presidente da República falava aos jornalistas, no final de uma cerimónia de homenagem que a Câmara de Castelo Branco lhe prestou, hoje, no âmbito das comemorações do 252º aniversário da cidade, com a atribuição do seu nome a uma avenida da cidade.

"Eu disse que quando recusei a promoção a marechal foi porque entendia que não devia ser um elemento de perturbação das Forças Armadas. Não vou, naturalmente, ultrapassar isso, para não dizer nada sobre aquela questão. Entendo que a instituição militar, a ministra da Defesa e o Presidente da República deverão saber resolver [o problema] de uma forma capaz", salientou.

Ramalho Eanes sublinhou ainda que ficou sensibilizado com a homenagem que lhe foi feita pela Câmara de Castelo Branco.

"Sensibiliza-me muito esta ideia da avenida com o meu nome. Eu sinto-me tão alcainense como albicastrense, por razões que se prendem com a minha infância e da minha vida adulta", referiu.

Questionado sobre o estado do país, 50 anos após o 25 de Abril de 1974, o antigo chefe de Estado disse que Portugal "melhorou de uma maneira extremamente interessante".

"O país hoje não tem nada a ver com o Portugal que era antes do 25 de Abril. Os fundos europeus permitiram que nós realizássemos milagres. Um dos milagres é termos um Estado social igual aos estados sociais europeus", sustentou.

Contudo, Ramalho Eanes entende que, posteriormente, "não fizemos aquilo que era indispensável: definir um projeto de vida em comum, que fizesse com que todos se sentissem unidos no trabalho para chegar a um objetivo".

No âmbito das comemorações do 252º aniversário da elevação de Castelo Branco a cidade, o antigo chefe de Estado foi homenageado, numa sessão na Câmara Municipal.

Seguiu-se a inauguração da Avenida General António Ramalho Eanes, em Castelo Branco.

António Ramalho Eanes nasceu em Alcains (vila do concelho de Castelo Branco) e mudou-se, com menos de três anos, com os pais, para Castelo Branco.

Foi na cidade albicastrense que viveu e estudou até ir para Lisboa, para frequentar a antiga Academia do Exército.

António Ramalho Eanes foi eleito Presidente da República em junho de 1976 e em dezembro de 1980.

Afastado da vida política ativa, Ramalho Eanes continua, enquanto elemento da sociedade civil, a intervir em assuntos que considera de relevância, especialmente cívica e cultural, nomeadamente através da sua participação em congressos e conferências sobre diversos temas (culturais, políticos, sociais e sociológicos, geopolíticos e geoestratégicos), em fóruns especializados, autarquias e universidades, entre outros, em Portugal e no estrangeiro.

Em 2000, rejeitou a promoção a marechal.

Atualmente, é, por inerência (como todos os Presidentes, que tenham já cumprido os seus mandatos e tenham sido eleitos na vigência da atual Constituição), conselheiro de Estado vitalício.

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