21 mar, 2023 - 07:56 • André Rodrigues , Hugo Monteiro , Olímpia Mairos
A educação especial continua a ser o parente pobre da educação em Portugal. O alerta é dos diretores de escolas públicas que reclamam mais investimento em recursos humanos.
Pelas contas do presidente da Associação de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (Andaep), Filinto Lima, faltam centenas de professores no ensino especial.
Em declarações à Renascença, Filinto Lima diz que, apesar dos bons resultados de Portugal nos estudos internacionais, a educação especial continua a não ter o investimento necessário.
“Ainda é um parente pobre, é necessário mais apoio aos nossos alunos, mas quero aqui sublinhar os estudos internacionais que, de facto, colocam esta área duma forma muito positiva no panorama educativo, pelo menos europeu”, diz Filinto Lima.
Na perspetiva do presidente da Andaep “é preciso maior investimento, sobretudo ao nível dos recursos humanos”.
“Seriam necessários mais algumas centenas, seguramente, porque nós falamos com as pessoas da educação especial e falamos com os diretores e estamos no terreno todos os dias e é isso que nós constatamos”, exemplifica.
Filinto Lima reconhece, por outro lado, que, depois de concluído o percurso escolar, muitos destes alunos não conseguem integrar-se na vida profissional.
“Há um trabalho de excelência feito pelos nossos professores a estes alunos que estão na unidade multideficiência e depois o que é sucede é que aos 18 ou aos 20 anos, não há uma APCDM, não há uma CERCI que os possa acolher, porque não têm vagas, as vagas são limitadas”, lamenta.
“E o trabalho que nós fizemos até aos 18 ou aos 20 anos de idade, é um trabalho, é um investimento forte da parte do Governo que muitas vezes vai por água abaixo porque os alunos posteriormente em vez de frequentarem instituições especializadas, alguns deles vão para casa, o que é muito injusto”, acrescenta.
Os alertas de Filinto Lima, da Associação de Diretores de Escolas Públicas, face ao que diz ser o desinvestimento do Governo na educação especial, surgem no dia em que se assinala o Dia Internacional do Síndrome de Down, uma deficiência do foro mental que afeta cerca de 15 mil pessoas em Portugal.
A Renascença questionou a presidente da Associação Portuguesa de Deficientes, sobre o que está a falhar na integração das pessoas com deficiência no mercado de trabalho.
Helena Rato diz que até há ofertas de trabalho para pessoas portadoras de deficiência. O problema, diz esta responsável, é que os próprios não se sentem preparadas para entrar no mercado de trabalho.
“Muitas vezes há ofertas de emprego e não há respostas pelo lado de pessoas com deficiência. Há ofertas que ficam vazias e ficam vazias porque o ensino já é deficiente, já é deficiente porque não há meios”, observa.
Segundo esta responsável, “a lei é boa, mas não há meios para se cumprir aquilo tudo que se devia cumprir”.
“Acaba [o ensino especial], ficam abandonados. Muitas pessoas com deficiência não estão preparadas minimamente para entrarem no mercado de trabalho. Esse é um drama, não têm competências para responderem àqueles anúncios”, conclui.