22 mar, 2023 - 07:44 • André Rodrigues
Se não chover nas próximas semanas, Portugal poderá ver confirmadas as previsões da Comissão Europeia, que antecipa um verão ainda mais seco do que em anos anteriores.
Confrontado pela Renascença com este cenário, Filipe Duarte Santos, relator do Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, admite que, “se durante a Primavera não houver precipitação, a situação torna-se ainda mais difícil”, sobretudo “no Barlavento do Algarve e na Costa alentejana”, onde “muitas barragens estão abaixo de 30% abaixo de 40%, algumas abaixo de 20%” da sua capacidade.
Um quadro muito diferente do que se verifica em “grande parte das barragens do país, que estão com cotas de cerca de 70% a 80% no Guadiana, por exemplo, ou nas regiões do Norte e do Centro”.
No futuro, a resposta às secas recorrentes estará na captação das chamadas “disponibilidades alternativas” de água que incluem águas residuais tratadas para a agricultura, “que absorve 76% do total da água consumida em Portugal”, e estações de dessalinização de água, como as que estão projetadas para o Algarve e para o Litoral Alentejano.
“Tudo isto leva um certo tempo a implementar, mas é o caminho a seguir”, assegura este especialista que dá o exemplo de Espanha como país que está “uns bons passos à frente de Portugal” em matéria de aproveitamento de águas para reutilização.
Filipe Duarte Santos diz que Portugal tem a capacidade, “mas falta, ainda, legislação… nisso ainda estamos um pouco atrasados em relação a outros países”.
Também ao nível da dessalinização, “a disparidade é enorme entre Portugal e Espanha”, mas “o investimento que se faz está sempre dependente da orientação política e da capacidade económica de cada país”.
Por outro lado, Filipe Duarte Santos reconhece que o aproveitamento alternativo das disponibilidades de água implica processos dispendiosos de tratamento que vão repercutir-se no bolso dos consumidores.
“A água em Portugal não reflete o seu custo real”, alerta o professor universitário que explica que “a forma como se vai calcular o preço da água daqui para a frente – sabendo que a tendência é de maior escassez de água – é uma questão de natureza social e política”.
Mas Filipe Duarte Santos diz não ter ilusões. Questionado sobre a eventual inevitabilidade de uma fatura da água mais pesada para os portugueses, este especialista é taxativo: “é inevitável”.
E justifica: “se nós queremos evitar que haja uma escassez de água, teremos de fazer este percurso que outros países já fizeram, e estão a fazer, devido a essas alterações climáticas que provocam menos precipitação não só em Portugal, mas em Espanha, em Itália, na Grécia, todo o Mediterrâneo e noutras regiões do mundo” onde os períodos de seca prolongados são uma constante.