20 mai, 2023 - 12:00 • Anabela Góis
Portugal é um dos países da Europa menos atrativo para a realização de ensaios clínicos, de acordo com a oncologista Fátima Cardoso.
Fátima Cardoso é uma das organizadoras do encontro deste sábado, a propósito do Dia Internacional dos Ensaios Clínicos, que junta especialistas de todo o país, justamente, para discutirem a situação e o que falta fazer para promover a investigação clínica em Portugal.
A diretora da unidade de cancro da mama da Fundação Champalimaud, em entrevista à Renascença, identifica os principais problemas que tornam Portugal "pouco atrativo". Está em causa uma "melhor organização".
"Não há uma rede estruturada entre os diferentes centros. E as entidades que são responsáveis pela aprovação dos ensaios clínicos demoram demasiado tempo a aprová-los, não só os reguladores, mas também as administrações dos vários hospitais", explica.
Isto causa um atraso de Portugal em relação aos restantes países da Europa, "quando abrimos um ensaio clínico, ele já está quase a fechar nos outros países e acabamos por incluir ainda menos doentes", continua a especialista.
Fátima Cardoso alerta que o facto de sermos um país onde é difícil realizar ensaios tem custos para as instituições mas, sobretudo, para os doentes, porque esta também é uma forma de terem acesso a medicamentos inovadores mais cedo.
Isto acontece sobretudo em ensaios clínicos de fase 2 ou 3, onde já há dados que mostram que a probabilidade do tratamento vir a ser melhor, "seja em termos de eficácia ou de menos toxicidade".
No que se refere a ensaios de fase 1 - os primeiros feitos em seres humanos - Portugal está ainda a dar os primeiros passos. Por esse motivo, de acordo com a especialista, ainda estamos muito longe de sermos um país atrativo nesta área.
"Até há pouco tempo, não tínhamos mesmo possibilidade de os realizar em Portugal. Agora temos uma unidade no IPO do Porto e está prestes a abrir uma unidade no Santa Maria, mas mesmo assim são poucos os centros e com pouca experiência", explica Fátima Cardoso.
A especialista oncológica diz que Portugal nem sequer tem um "registo atualizado dos ensaios clínicos que são feitos", por isso não é possível saber quantos foram ou estão a ser feitos no país.
Da parte dos doentes há cada vez mais interesse em participarem em ensaios clínicos.
Fátima Cardoso diz que a literacia nesta área mudou a perceção que as pessoas têm destes estudos, especialmente em "pessoas com doença bastante graves, como na área da oncologia".
"[As pessoas] sabem que participar num ensaio clínico lhes dá uma possibilidade extra de tratamento, o que é sempre bem-vindo nestas situações difíceis", explica a médica oncológica.