22 mai, 2023 - 11:06 • Tomás Anjinho Chagas , Olímpia Mairos
O antigo presidente do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana (IHRU) diz não compreender como é que o Governo insiste em habitações públicas.
Vitor Reis reage deste modo aos dados apurados pela Renascença que mostram que a procura supera em muito a oferta. Em Lisboa, por exemplo, só 2% dos mais de 57 mil candidatos conseguiram habitação.
Vitor Reis, que foi nomeado para o cargo por Passos Coelho, em 2012, e saiu em 2017, critica a estratégia de habitação do atual executivo.
“O nosso país tem um problema muito antigo, em que 98% do parque habitacional é privado”, afirma, considerando que “tentar que por via administrativa ou legal, se aumente a oferta de casas públicas é um erro clamoroso”, aludindo aos números revelados esta segunda-feira pela Renascença.
Para Vítor Reis, o mais importante é manter a confiança daqueles que têm casa e que estão dispostos a arrendá-las.
“Qualquer pessoa que vai investir, ou que tem uma casa, a única coisa que pensa é como é que eu fujo daqui”, sinaliza, destacando que “quando nós falamos de confiança, haver confiança, todos nós, no nosso quotidiano, na forma como agimos, estamos sempre preocupados com a nossa segurança, com a confiança do que fazemos”.
“Nós não vamos viajar numa companhia de aviação em que está nas notícias que tem acidentes o tempo todo”, exemplifica.
Na visão do antigo presidente do IHRU o plano Mais Habitação, anunciado no início deste ano, não passa de uma estratégia para sacudir as responsabilidades neste tema.
“A sensação que fica é que parece que estão deliberadamente a procurar criar aqui uma situação para daqui a uns anos, quando os problemas se agravarem, virem dizer que não tem culpa”, atira.
“A culpa é dos outros, a culpa é do Carlos Moedas, que, em Lisboa, não quis aplicar o arrendamento forçado; é do Rui Moreira, que no Porto fez o mesmo; é da oposição que crítica, é do Presidente da República que veta e do Tribunal Constitucional que chumba”, exemplifica.
Por fim, Vítor Reis alerta que “dentro de uns anos vamos estar pior do que estamos hoje”.
“Eu, sobre isso, não tenho qualquer dúvida. Por mais dinheiro que venham pôr aqui em cima disto, não chega para tapar a gigantesca cratera que estão a aumentar”, conclui.