24 mai, 2023 - 09:31 • Ana Fernandes Silva , com Pedro Valente Lima
As farmácias estão a ficar sem soluções perante a falta generalizada de medicamentos, um problema que tem afetado cada vez mais utentes nos últimos meses. A resposta tem passado pelos genéricos, embora os farmacêuticos e os utentes não considerem ser a ideal - e em muitos casos, também já começa a esgotar.
A Renascença foi a várias farmácias em Vila Nova de Gaia onde o problema não é exceção: "Continuamos a ter faltas [de medicação] nos diabéticos e em várias outras categorias, até em alguns medicamentos genéricos", diz o farmacêutico António Prata, da Farmácia Couto.
De acordo com o funcionário, a situação ganha contornos mais drásticos quando "o dia da toma se aproxima e as pessoas não têm o medicamento". Natália Estevéns, também farmacêutica, aponta que os utentes se veem forçados a recorrer aos médicos para arranjar uma alternativa aos fármacos esgotados.
"Notamos que há pessoas que deixam de tomar, porque não conseguem arranjar [a medicação]. Porque a medicação tem de ser [tomada] de forma continuada e têm de recorrer ao médico para solucionar de outra forma", aponta a funcionária da Farmácia Portela.
As listas de espera também continuam a aumentar nos últimos meses, com a farmácia a registar "reservas na ordem das centenas": "Às quais não conseguimos, de maneira nenhuma, dar resposta", lamenta Natália Estevéns.
Em pleno mês de maio, o estabelecimento apenas tem conseguido responder aos pedidos de reserva de fármacos de fevereiro.
Empurrados para soluções alternativas, os utentes dizem sentir a diferença ao promoverem alterações na medicação habitual. No caso de Maria João, utente da Farmácia Portela, a falta de Diazepam - um ansiolítico tranquilizante - obrigou-a a recorrer a um medicamento genérico.
Dois meses depois, sente que o seu estado de saúde piorou. "Agora dão-me o Diazepam Labesfal, um genérico que, por acaso, me faz uma diferença bastante grande. Sinto-me pior, sinto que não me faz o efeito que o outro fazia. Eles dizem que tão cedo não vai haver [reposição do stock]."
À Renascença, Nuno Simões, diretor da Unidade de Projetos Interinstitucionais e para o Sistema de Saúde do Infarmed, adianta que está a ser preparado um novo modelo para uma Reserva Estratégica de Medicamentos.
"A Reserva Estratégica de Medicamentos já existiu durante a pandemia e eu penso que neste momento está a ser desenhada, delineada um novo modelo de gestão, para uma nova reserva estratégia de medicamentos, que eu penso que a breve prazo será implementada."
Na perspetiva do especialista trata-se de "uma medida que, em conjunto com outras medidas, pode fazer sentido" e pode "ajudar a mitigar o problema" da falta de fármacos. Nuno Simões reforça ainda que o Infarmed publica listas atualizadas com os medicamentos que não podem ser exportados e que são feitas inspeções para garantir que não há incumprimentos.
[Notícia atualizada às 10h55 de 24 de maio de 2023]