25 mai, 2023 - 06:22 • Liliana Monteiro
Portugal voltou a ouvir falar no caso Maddie McCann com o regresso, na passada terça-feira, de buscas no Algarve para tentar encontrar pistas sobre o desaparecimento da criança inglesa.
Em declarações à Renascença, Gonçalo Amaral, o inspetor aposentado da Policia Judiciária (PJ) , considera que o retomar das buscas serve para criar um bode expiatório que nada tem a ver com o caso e que já foi de resto avaliado pela polícia portuguesa.
"É um pouco estranho este orçamento e meios no terreno para esta operação. Pergunto porquê? Para isto é preciso ter fundamentos fortes e não são apenas um simples 'ele estava neste local por isso vamos ali procurar'. Porque não na barragem de Santa Clara a Velha, mais acima, onde ele também ia e era assíduo e havia uma comunidade alemã? Há aqui algo que não funciona", sublinha.
Gonçalo Amaral estranha também que as novas informações, dadas por um traficante de seres humanos condenado, que apontam suspeitas a Christiane Bruckner, não tenham sido remetidas pelos britânicos ao processo em Portugal, mas sim à Alemanha.
"Essa pessoa chegou e disse que este alemão, uma vez num festival no sul de Espanha, lhe confidenciou que era responsável pelo desaparecimento de Maddie. Era um individuo que vivia em Portugal, que tinha cometido alegadamente o crime em Portugal, a investigação corria em Portugal, então porque é que os ingleses em vez de remeterem para o nosso país remetem para a polícia alemã?”, questiona.
E não tem dúvidas que “é desde essa altura que se constrói um perfil em relação a este individuo que está detido até por uma violação que aconteceu lá perto (da Praia da Luz), violação que não existiu!”, sustenta.
O ex-inspetor, que teve em mãos o processo do desaparecimento que aconteceu a 3 de maio de 2007, sublinha que contra Christiane Bruckner, que cumpre prisão por violação de uma norte-americana no Algarve, não há provas.
"Neste caso de violação de 2005 o exame ginecológico realizado no Hospital de Portimão, na noite em que aconteceu o alegado crime, mostra que não houve violação. O exame tinha relatório escrito à mão e o tradutor disse que era ilegível, não foi tido em conta no processo, mas nem perguntaram aos colegas portugueses. O individuo está preso por algo que não existiu. Foram ainda recolhidos na casa da mulher os lençóis, etc... e nada foi encontrado que tivesse vestígios deste alemão."
Em relação ao desaparecimento de Maddie, Gonçalo Amaral explica que não há qualquer localização de chamadas deste individuo na Aldeia da Luz, junto ao Ocean Club.
“Fala-se de um telemóvel e nem conseguem provar que aparelho usava e também não o conseguem meter dentro do apartamento. Há uma lista de pedófilos e assaltantes naquela zona e essa lista foi verificada e ele está lá, mas dizer que há chamada perto do apartamento é mentira. Ele vivia perto da praia da luz mas ainda afastado no entanto era possível ele ligar de casa e ativar a antena da zona."
Caso Maddie
O advogado que representa o casal McCann explica q(...)
Quanto ao que se procura nesta altura, diz Gonçalo Amaral, que pouco resta encontrar.
"Já ouvi que andam à procura de objetos, o que havia era o pijama, nem meias havia, nem chinelos, e há o corpo da miúda onde havia também cabelos."
Receia que sejam plantadas provas? Gonçalo Amaral lembra que a investigação pediu pijamas à fábrica que produziu aquele que a criança vestia, roupa que está também nas mãos das autoridades inglesas.
"A partir de agora não sei como se controlam os pijamas e não sei o que pode acontecer. Sei que há muitos cabelos da miúda, a família tem, a polícia inglesa tem, Portugal tem e do suspeito também há", sublinha.
O inspetor aposentado considera que se está a criar um bode expiatório: "Os pais e os amigos não podem ser responsabilizados e é preciso um bode expiatório e está aqui! Ao fim de oito anos é isto. A investigação alemã quer apenas provar que este individuo tem algo a ver com este caso".
Sabe que uma operação como a que está no terreno é dispendiosa e lamenta que o dinheiro não tenha sido usado para uma coisa fundamental.
"Com tanto dinheiro o que se podia fazer a reconstituição do dia 3 maio 2007, com pais e amigos e testemunhas e isso podia trazer a verdade", conclui Gonçalo Amara