14 jun, 2023 - 12:57 • Pedro Valente Lima
Portugal está entre os países europeus onde menos jovens optam por cursos profissionais, de acordo com o estudo "Como valorizar o Ensino Secundário Profissional?", divulgado esta quarta-feira pela Fundação Belmiro de Azevedo, em colaboração com a Universidade de Aveiro.
O país tem 45% dos estudantes a frequentarem cursos profissionais, ocupando a 19.ª posição num 'ranking' de países europeus. David Justino, membro do conselho consultivo da EDULOG - 'think tank' da Fundação Belmiro de Azevedo - diz não dar "muita importância" aos números, uma vez que têm que ver com "o tipo de oferta e o tipo de tradição de cada país".
Segundo o estudo, República Checa (73%), Finlândia (71%), Croácia e Áustria (70%), Holanda e Eslováquia (69%) são os países com maior proporção de alunos no ensino profissional.
Contudo, o antigo ministro da Educação salienta à Renascença que o mais importante é que a via escolhida - cursos científico-humanísticos ou cursos profissionais - "seja qualificadora".
"Ou seja, que dê o conhecimento e as competências indispensáveis a uma boa inserção no mercado de trabalho e que possa, no fundo, fomentar o aparecimento de quadros médios nas empresas que sejam devidamente qualificados."
Nesse sentido, David Justino sublinha ser necessário combater o estigma - "uma falsa ideia" - de a via profissional "ser mais fácil de frequentar": "A ideia de que os cursos profissionais são uma versão 'light' dos cursos científico-humanísticos tem de ser superada".
Segundo o membro do conselho consultivo da EDULOG, o ensino profissional em Portugal tem atraído cada vez mais alunos, sobretudo devido "aos bons níveis de empregabilidade". Não deixa também de realçar o "contributo inestimável" desta via do ensino secundário "para a redução do abandono escolar".
Contudo, David Justino aponta para uma "carência enorme de recursos humanos especializados em áreas técnicas mais específicas", sendo necessária uma aposta em "currículos e componentes próprias", em "material e infraestruturas", para "proporcionar um bom ambiente de aprendizagem".
"É possível e desejável que se vá um pouco mais além, para que as pessoas não escolham os cursos profissionais por serem uma opção mais facilitadora, mas porque vão obter qualificações indispensáveis para o mercado de trabalho. O problema está mais do lado da qualidade da oferta do que propriamente da procura."
A investigação, relativa ao período de 2018 a 2021, aponta que a grande maioria (91%) dos estudantes do ensino profissional provém de famílias sem formação superior dominante. No entanto, também revela que cada vez mais alunos deste tipo de cursos prossegue estudos ao nível universitário.
Por outro lado, o estudo aponta que cerca de 81% dos cursos destinam-se ao setor terciário, mas apresentam pouca variedade: mais de metade insere-se nas áreas dos Serviços, de Engenharia, Indústrias Transformadoras e Construção e Saúde e Proteção Social. Um terço corresponde a formação nas áreas das Ciências Informáticas e da Hotelaria e Restauração.
Para o ex-ministro da Educação, esse cenário é fruto do propósito primordial do ensino profissional: "Quer queiramos, quer não, estes cursos estão orientados para a formação de indivíduos que vão entrar no mercado de trabalho".
"Portanto, as tendências do mercado de trabalho tendem a refletir-se na procura dos cursos. A maior parte dos alunos quer entrar no mercado de trabalho após a conclusão da escolaridade obrigatória. Quando assim é, devemos estar atentos às mudanças do mercado de trabalho e orientar esses cursos em função da empregabilidade."