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Jornadas Parlamentares na Serra da Estrela

PCP foi a Gonçalo, a antiga “aldeia vermelha” por onde o fogo passou no ano passado

20 jun, 2023 - 07:00 • Tomás Anjinho Chagas

Comunistas visitaram os afetados pelos incêndios numa aldeia na Guarda e ouviu desabafos de quem teve prejuízos de milhares de euros. Pelo meio, um militante assinalou a perda de força do PCP naquela que já foi uma "aldeia vermelha".

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Gonçalo é um nome próprio para a maioria, mas é também o nome da aldeia de alguns. No coração da Serra da Estrela, no concelho da Guarda, esta povoação foi fustigada pelos incêndios que arderam 26 mil hectares do Parque Natural da Serra da Estrela, em agosto do ano passado.

Durante as jornadas parlamentares dos comunistas que decorrem na Serra da Estrela, os deputados do PCP encontraram-se com quem viveu os fogos na pele quando as chamas lá passaram.

Na área que preenche os arredores há vegetação baixa verdejante, mas as árvores estão negras, mortas e à espera de ser levadas a troco de quase nada.

Passaram dez meses desde que as chamas assolaram a serra, mas os afetados ainda não viram chegar um cêntimo dos prometidos apoios pelo governo.

“Vamos aguardar se vem alguma coisa ou não vem”, suspira expectante Silvino Santana, um dos cerca de 20 habitantes de Quintas de Gonçalo, junto à povoação principal. “Se me dessem três mil euros, não me pagavam o prejuízo que eu tive”, garante. Mas o apoio não deve chegar aos 1.300 euros.

Em agosto do ano passado, o fogo levou plásticos, alumínios, galinhas, paletes e tudo o que demais se encontrava no terreno de Silvino Santana: “Ardeu tudo, pronto. E não chegou a minha casa porque estava lá um caminho público, se não ia a casa e tudo”, relata homem de quase 70 anos.

E este ano o cenário pode ser semelhante, uma vez que Silvino Santana assinala que há lacunas na limpeza dos terrenos, incluindo naqueles que são públicos. “Eu vou para a Guarda, para a Covilhã, Belmonte, para todo o lado… está tudo por limpar, o que é do Estado”, critica.

Prefere não se pronunciar sobre o que terá estado na origem do incêndio que lavrou na Serra da Estrela, mas constata que “agora se veem madeireiros por todo lado a carregar camiões e camiões de madeira”, por isso não resiste a colocar em dúvida: “Será que isto tudo é negócio?

A ousadia é-lhe conferida por anos e anos de trabalho na serra, onde passou uma vida inteira. Apesar dos prejuízos provocados pelas chamas, não perde o sentido de humor quando decide cala-se: “Não digo mais nada se não ainda me deitam aí o fogo”, diz enquanto se ri.

Uns metros ao lado está Maria Alice, uma mulher na casa dos 80 anos, sentada num muro que circunscreve o terreno da Igreja. Pouco tempo depois de soarem os sinos, desabafa que a falta de acessos para sua casa, que não são só porta de entrada- são também de saída.

“Isto é 500 metros daqui e não há caminho [alcatroado] nenhum para podermos de lá sair. Se vem um fogo nós ficamos lá todos outra vez”, descreve Maria Alice. “Não tínhamos saída”, recorda os incêndios que devastaram a aldeia em agosto passado.

“Era a aldeia vermelha”, mas são “cada vez menos”

No meio da visita, os deputados do PCP ouvem e conversam com os que viram as chamas de perto no ano passado. Duarte Alves, deputado comunista, assinala Quintas de Gonçalo como uma “terra de grande tradição de luta”, numa alusão à força que o PCP tinha nesta aldeia no pós-25 de abril.

Era a aldeia vermelha”, anui Fernando Nelas, um habitante que se dedica a produzir cestas de vime na aldeia de Gonçalo. “Onde é que está o vermelho agora? Está no Benfica, lá nas águias que eu ofereci”, lamenta este homem que também foi penalizado pelo incêndio: “É uma vergonha”, exclama.

Fernando Nelas assume que ao longo dos anos o PCP tem vindo a perder força, e acredita que isso acontece porque o partido incomoda: “Quando há qualquer coisa [boa] é graças ao Partido Comunista, é por isso que eles não gostam de nós. É por isso que cada vez somos menos”, descreve o homem a quem as chamas arderam o vime com que faz as cestas. E deixa uma farpa à direita: “Vai para lá o Chega? Havia de ir para lá o Chega havia…”

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