20 jun, 2023 - 13:13 • Tomás Anjinho Chagas
O PCP acusa o Governo de ser uma "recicladora de milhões" ao anunciar apoios que acabam por não chegar às vítimas dos incêndios, e de depois transformar essas verbas noutras ajudas.
Durante as jornadas parlamentares do partido, que decorrem na Serra da Estrela até esta terça-feira, os comunistas visitaram um produtor de leite de cabra que estima que o fogo lhe tenha causado prejuízos na casa dos 5 mil euros.
"O fogo chegou a todo o lado", explica Paulo Melo, que conseguiu travar as chamas e impedir que invadissem a exploração agropecuária que detém. Tem 600 cabras e produz 800 litros de leite por dia, num pequeno terreno em Valhelhas, em Manteigas, distrito da Guarda. Emprega duas pessoas e em agosto de 2022 o fogo chegou a provocar estragos.
O Estado prometeu pagar-lhe "100% dos prejuízos", mas até agora não chegou nada. "Uma pessoa também já está habituada a falsas promessas, temos de continuar a trabalhar", suspira este produtor, referindo-se aos apoios para fazer face à seca de 2022, que também ainda não chegaram. "É uma recicladora de milhões que têm lá Governo", concorda João Dias, deputado do PCP, que acredita que os apoios aos produtores para contrariar a inflação também vão ser transformados em outras ajudas.
"Vão transformar estes milhões de apoio à inflação em apoio à seca, e depois vemos quando é que vão chegar. No ano passado fizeram a mesma coisa", denuncia o deputado comunista.
No terreno, a realidade confirma que os apoios não chegam. Este proprietário não sabe quando é que vão ser entregues as verbas que lhe foram prometidas e tenta evitar subir os preços, apesar de admitir que tem sido difícil. Quando não tem pastagens para alimentar os animais, tem de recorrer à palha que vem de Espanha. "No ano passado comprávamos a tonelada da palha a 80 euros, agora está a duzentos. E vai continuar a subir", suspira Paulo Melo enquanto mostra as instalações que resguardam as cabras que o sustentam.
Há mais de dez meses, o fogo passou pela Serra da Estrela e provocou estragos de milhares de euros. Mas o dinheiro tarda a chegar aos bolsos do que sofreram com os incêndios agosto do ano passado. Esta segunda-feira houve relatos de pessoas noutras localidades da serra que denunciam a falta do pagamento dos apoios prometidos.