04 jul, 2023 - 12:52 • Redação com Lusa
O presidente da Câmara Municipal do Porto não tem dúvidas de que a linha de alta velocidade a ligar a cidade a Madrid seria "uma mais-valia" e uma forma de combater o "desequilíbrio" da região Norte.
Numa conferência organizada pela associação Vale D'Ouro, submetida ao tema "A Linha de Alta Velocidade Porto/Madrid - via Trás-os-Montes e Castela e Leão", o autarca Rui Moreira disse não ter "qualquer dúvida que esta linha seria uma mais-valia para a mercadoria”, acrescentando que o grande desafio é o combate ao desequilíbrio da região norte: “temos uma região norte que é, de todas as regiões portuguesas, aquela que é a mais desequilibrada entre o seu interior e litoral”.
Nesse sentido, o autarca assume que esta linha poderá contribuir para a unificação do Norte, bem como ligações com Madrid, mas “é preciso perceber que só faz sentido se for acompanhado de políticas regionais competentes”.
Já o presidente da Câmara de Vila Real Rui Santos assume que este projeto “é uma excelente solução” que “vale a pena defender”, lamentando “perda de anos neste projeto” e tendo feito votos de que haja “consensos e políticas partidárias”.
Outro autarca presente, Hernâni Dias, presidente da Câmara de Bragança, argumentou que relativamente a este projeto “não podemos ter uma atitude economicista”. O autarca assegurou que “o problema do interior não é ser interior hoje, mas sim desde sempre”, considerando que “se esta ligação acontecer, é o coser de territórios que nunca estiveram ligados e ainda não estão nem rodoviária, nem via ferroviária”.
No evento marcou presença também Pablo Novo, conselheiro da Câmara Municipal Zamora. Pablo Novo defende que o projeto apresentado pela Associação d’Ouro é "realmente importante" no que concerne ao desenvolvimento da intermodalidade e que “esta linha faz pensar num modelo que já está a ser aplicado em Espanha – train and flight”, modelo em que o cliente pode adquirir bilhetes de várias conexões intermodais sendo este um método muito eficiente no turismo espanhol.
A Associação Vale d’Ouro defende que “o comboio pode voltar a apitar para lá dos montes” e pode contribuir decisivamente para o desenvolvimento do Norte do país. Segundo o presidente da direção da associação, Luis Almeida, argumenta que “a grande vantagem desta ligação por Zamora são os 40 quilómetros entre a fronteira e a rede de ligação espanhola”, referindo ainda que a ligação Aveiro/Viseu/ Salamanca implicará um maior investimento do lado espanhol.
A conexão idealizada pela Associação Vale D’Ouro, ligaria Porto e Madrid em pouco menos de três horas numa extensão de 290 quilómetros. O investimento da nova infraestrutura ronda os 4,5 milhões de euros e conta com o apoio dos municípios de Trás-os-Montes.
Também presente neste evento, o presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, pediu que as linhas de alta velocidade ferroviária a construir no país sejam alvo de consenso político, suporte técnico e rapidez na decisão.
"Acho que são boas duas coisas, e este Governo já mostrou disponibilidade para isso: que estas decisões sejam tomadas na base de um entendimento pluripartidário, em particular com o principal partido da oposição. A questão do TGV é tão importante como a questão do aeroporto de Lisboa, como é óbvio", afirmou.
O segundo ponto mencionado por Francisco Assis foi o desejo de que "a decisão tomada o seja "com base num suporte técnico rigoroso".
"Terceiro, que estas decisões não sejam postergadas no tempo a ponto de nós continuarmos a adiar o desenvolvimento do nosso país", disse o antigo eurodeputado aos jornalistas no final da conferência. .
Outro dos pontos apontados por Francisco Assis no caso das ligações transfronteiriças foi a coordenação das decisões com Espanha, notando que os espanhóis são "inflexíveis" na defesa do seu interesse estratégico.
"Nós temos que fazer o mesmo. Julgo que o faremos. Portugal também tem que ser muito claro quando chegar o momento de dialogar com o Governo espanhol", defendeu.
Porém, para tal acontecer, "primeiro tem que saber muito bem o que quer", para depois ter de "ser muito claro a colocar aos espanhóis essas questões, porque isto também é do interesse de Espanha", frisou Francisco Assis.
"A nossa articulação com Espanha não se pode fazer apenas em função da definição das prioridades espanholas, mas em função de entendimentos que temos que alcançar, em que as prioridades portuguesas têm que ser tidas em consideração", referiu.
O responsável do CES apontou que ainda se está "numa fase de estudo em Portugal" sobre as futuras ligações ferroviárias transfronteiriças, só sendo possível haver conclusões "quando o país tomar decisões claras".