13 jul, 2023 - 13:06 • Lusa
A Associação Portuguesa pelos Direitos da Mulher na Gravidez e Parto considera que os encerramentos programados de maternidades podem levar à aceleração de trabalhos de parto, mais “partos instrumentados” e mais cesarianas.
“A evidência tem vindo a demonstrar não ser seguro, para mães e bebés, agendar, instrumentar, acelerar (…). Aumenta a nossa mortalidade materna e perinatal”, disse Sara do Vale, que participou no cordão solidário organizado esta quinta-feira em frente ao Hospital Santa Maria, em Lisboa, cuja bloco de partos encerra em agosto para obras.
A responsável sublinhou que, atualmente, a mortalidade materna em Portugal “é das mais altas dos últimos 38 anos”.
Explicou que o encerramento rotativo de maternidades impede a grávida de escolher onde quer ter o seu bebé – um direito consagrado por lei – e disse que, quando se sabe que o bloco de parto fecha a determinada hora, “é normal” ter de se agendar os procedimentos.
“E nós sabemos que depois há mais cesarianas, partos instrumentados e, depois, mobilidades e problemas que acontecem, com mãe e bebé, que vão para casa e tem que viver com estas decisões”, afirmou.
Esta questão já tinha sido abordada na quarta-feira pelo ex-diretor do Departamento de Obstetrícia, Ginecologia e Medicina da Reprodução, Diogo Ayres de Campos, que na Comissão Parlamentar de Saúde admitiu que os encerramentos rotativos de maternidades podem levar a mais casos em que o trabalho de parto é acelerado e a mais partos instrumentados.
“Os encerramentos rotativos têm problemas adicionais: há uma pressão adicional para provocar mais trabalhos de parto, para ter certeza que ocorrem quando o serviço está aberto”, afirmou o responsável.
“Isto predispõe um aumento da intervenção. Se sei que fecha às 21:00 e há trabalhos de parto que não decorreram, há mais acelerações de trabalhos de parto, mais cesarianas e mais partos instrumentados”, acrescentou.
Em declarações aos deputados, Diogo Ayres de Campos disse igualmente que esta situação [encerramentos rotativos] pressupõe igualmente mais transferências hospitalares, sublinhando: “isso tem um risco acrescido”.
A violação do direito de escolha da mulher relativamente ao hospital onde quer ter o bebé foi outras das situações apontadas: “Por lei, a mulher tem o direito de escolher o hospital onde quer ter o seu parto (…). O encerramento rotativo acaba com esta escolha”.
“A grávida não sabe quando vai iniciar o trabalho de parto. Essa previsibilidade não existe”, insistiu o responsável, que foi ouvido na Comissão Parlamentar de Saúde sobre o plano para a resposta de Obstetrícia e Ginecologia traçado pela Direção Executiva do SNS.