18 jul, 2023 - 20:50 • Fátima Casanova
Viver em locais pouco populosos, pode significar ter internet de fraca qualidade e comunicações de voz móveis a falhar constantemente. O cenário é traçado à Renascença pelo presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), que sublinha que “há grandes assimetrias no acesso às comunicações entre concelhos e dentro dos próprios concelhos”, com as freguesias menos populosas a serem as mais penalizadas.
Esta é uma das conclusões que é possível retirar, depois da ANACOM ter avaliado mais de um quarto dos concelhos do país.
João Cadete de Matos diz que “em muitos concelhos do país, até mesmo do litoral, em que a sede do concelho e as freguesias mais populosas têm uma qualidade, quer para as chamadas de voz, quer para o acesso de internet, que é muitas vezes aceitável e que nas zonas mais periféricas, com menos população há falhas inclusive nas chamadas de voz e há muitas zonas com 2G, onde o acesso à internet não é possível”. O presidente da ANACOM acrescenta que, por exemplo, no “concelho de Odemira, concelho com maior extensão territorial do país, há zonas sem rede de ligação móvel e se alguém tiver um acidente na estrada não consegue fazer uma chamada para o 112”.
Mas este não é caso único, também aconteceu em Trás-os-Montes e na zona centro, por exemplo, nos concelhos de Góis e de Mação.
De acordo com a avaliação feita pela ANACOM, as regiões com a maior percentagem de chamadas telefónicas falhadas são: Vinhais (22% de chamadas falhadas), ilha de S. Jorge (20%), concelho de Góis (18%), concelho de Odemira (18%) e concelho de Vimioso (18%).
No acesso à internet, há muitas dificuldades nos concelhos referidos a que se juntam os concelhos de Castelo Branco e Miranda do Douro.
João Cadete de Matos admite que há correções a fazer e podem ser conseguidas na sequência do leilão de frequências de 5G, já que “até ao final deste ano, os operadores têm de cobrir 75% da população de cada uma das freguesias de todos os concelhos de baixa densidade com uma velocidade de acesso à internet de 100 megabits, o que é muito superior ao que se regista atualmente em que a média anda à volta dos 20, 30 ou 40, por isso vai ter de duplicar ou triplicar em muitos dos concelhos até ao final do ano. Daqui a dois anos essa cobertura passa de 75% para 100% da população de cada freguesia, o que significa que vamos ter uma maioria muito significativa das comunicações, sobretudo na qualidade do acesso à internet em todo o território”.
O presidente da ANACOM diz que, de acordo com os estudos mais recentes, nos últimos dois anos, na sequência do leilão do 5G, tem havido um investimento dos operadores em muitos dos concelhos e garante que vai ser feita nova avaliação no final do ano.
Os dados que a ANACOM dispõe elucidam bem a importância de ter o roaming nacional, por exemplo, “em Vimioso, no distrito de Bragança, o operador com pior cobertura, só cobre 25% das chamadas feitas, mas juntando a rede dos 3 operadores, a percentagem de cobertura passa para 91%, no concelho de Mação, o pior operador cobre 42% das chamadas e com o roaming nacional teríamos 84%, na zona sul, em Avis, o pior operador em vez de 47% de cobertura passaria a ter 86%”, exemplifica João Cadete de Matos.
O responsável acrescenta que “o roaming nacional era de fato uma boa solução” e, por isso, tem pugnado “para que os operadores façam esses acordos entre si” o que vai ser possível com a entrada de novos operadores no mercado.
O líder da ANACOM acrescenta que os operadores Vodafone e NOS decidiram partilhar as antenas, o que “significa uma muito melhoria da cobertura através dessa partilha”.
O roaming nacional, explica João Cadete de Matos, significa “a partilha de infraestruturas com o benefício para todos: porque os clientes de cada operador vão poder fazer chamadas em sítios em que hoje não podem e os operadores ao fazer isso vão ter um aumento de receitas”.
O exemplo mais flagrante é junto à fronteira com Espanha em que muitas das vezes, os portugueses ligam-se ao operador espanhol quando essas chamadas podiam ser feitas por operadores nacionais, que em cada sítio tivessem melhor cobertura, já para não falar dos estrangeiros que nos visitam e que podem ligar-se a qualquer operador, enquanto os portugueses só podem usar a rede do seu próprio operador. Para João Cadete de Matos “isso é um paradoxo que conviria corrigir”, acrescentando que tem a expectativa que os operadores percebam a vantagem do roaming nacional, que já existe na maioria dos países europeus.
O presidente da ANACOM acredita que a entrada de novos operadores poderá agilizar o processo do roaming nacional ao mesmo tempo que vai fazer baixar os preços para os níveis da Europa e recorda que “nas últimas duas décadas, os preços aumentaram 15% enquanto na União Europeia reduziram cerca de 8%” , acrescentando que “temos preços 21% acima dos valores praticados na Europa”.
João Cadete de Matos acredita que os novos operadores vão praticar preços mais baixos, como aconteceu em Espanha que “têm ofertas que são, em alguns casos, metade do preço daquilo que se paga em Portugal”. O responsável pela autoridades das comunicações está otimista e acredita que nos próximos meses, entre o final do ano, início do próximo, os preços das comunicações vão baixar, à semelhança do que aconteceu, não só em Espanha, mas também em Itália, França e Reino Unido.
João Cadete de Matos alerta, por isso, para o cuidado que os consumidores têm de ter com as campanhas de fidelização, “porque as campanhas são muito ativas, para impedir o consumidor, quando tiver ofertas mais competitivas, possa mudar de operador”.