21 jul, 2023 - 08:00 • Redação
A probabilidade de as próximas vagas de calor na Europa se alastrarem a Portugal é muito grande, alerta o climatologista Carlos da Câmara.
A atual onda de calor que está a fazer os termómetros baterem recordes em países como Itália e Espanha só não chegou desta vez a Portugal pelo efeito do anticiclone dos Açores, que tem ajudado a amenizar as temperaturas.
"Escapámos desta. Estatisticamente, não iremos escapar de outras vezes", diz o especialista em entrevista à Renascença.
"A primeira coisa a fazer é percebermos que não termos sido atingidos por esta onda de calor não quer dizer que não venhamos a ser atingidos por uma próxima e que a probabilidade de, este ano, haver ondas de calor e que nos afetem é grande."
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Para Carlos da Câmara, os desafios decorrentes das alterações climáticas não estão tanto nas temperaturas extremas que se verificam, mas na frequência e duração destes fenómenos, quer na Europa quer noutros continentes. O especialista dá exemplos do impacto que essas alterações estão a ter nos territórios.
"No Sul de Inglaterra começa a recultivar-se vinha, porque começa a haver condições para haver a produção de bons vinhos. Isso acontece porque, na realidade, há modificações estruturais na circulação da atmosfera que levam a que culturas que antes era impensável fazer passem agora a tornar-se viáveis."
Noutros pontos, indica ainda o especialista, "será pior" e "culturas que antes eram viáveis vão desaparecer".
A situação que se vive não é recente e os seus efeitos apenas revelam, para o climatologista, que "estamos a viver o somatório de coisas que aconteceram há 200 anos".
Questionado sobre o que pode ser feito para combater este fenómeno, o especialista invoca a necessidade de se reduzirem as emissões de gases com efeito de estufa, mas deixa um alerta: "Se começarmos a corrigir essas emissões, os efeitos vão também demorar a notar-se de uma forma evidente."
As alterações climáticas, que se fazem sentir com cada vez mais frequência, podem fazer subir os custos com os seguros em Portugal.
Em declarações à Renascença, o presidente da Associação Portuguesa de Seguradores (APS), Galamba de Oliveira, explica que a revenda dos seguros a seguradoras estrangeiras pode ter impactos nos prémios de seguro em território nacional.
“Muitas destas coberturas que são vendidas em Portugal e que são vendidas por todo o mundo, depois são resseguradas a nível internacional e obviamente o custo desse resseguro é que pode vir a ficar um pouco mais caro. Isso, apesar de tudo, deve refletir-se nos prémios de todos nós, porque há situações realmente de extrema violência em algumas partes do globo”, alerta o dirigente.
Ainda assim, não estão previstos, no curto prazo, aumentos extraordinários com os seguros em Portugal e Galamba de Oliveira garante estar tranquilo com a situação, relativamente aos custos para as seguradoras portuguesas. O presidente da APS alerta, contudo, para a necessidade de envolvimento em iniciativas para mitigar os efeitos das alterações climáticas não seja necessário alterar os modelos de risco.
“São iniciativas que têm muito envolvimento do setor segurador, porque pensamos que só assim podemos, a médio-longo prazo, continuar a poder segurar muitos bens, muita terra, muita floresta, muito território que hoje é segurável, mas dentro de algumas décadas pode não ser, se estes fenómenos se tornarem muito mais recorrentes.”, remata.
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