03 ago, 2023 - 13:40 • Maria João Costa , Manuela Pires
É cor verde esperança o traço redondo que o Papa deixou gravado nas paredes da sala da Scholas Occurrentes que visitou esta quinta-feira, em Cascais. Francisco juntou-se assim ao projeto do mural de mais de três quilómetros com que os jovens desta instituição lançada pelo então Jorge Mário Bergoglio, cardeal em Buenos Aires, marcaram a visita do Papa a Portugal.
Na casa amarela que é hoje teto da Scholas e que já foi a escola primária Conde Ferreira de Cascais, o Papa conversou com três jovens de diferentes nacionalidades e religiões. Francisco escutou Aladje, muçulmano da Guiné-Bissau; Paulo, evangélico do Brasil e Mariana, católica de Portugal.
Deles recebeu perguntas e respondeu de improviso. Numa sala com o teto e as paredes pintadas a que Francisco chamou de “Capela Sistina”, o Papa desafiou os jovens. “Põe-te a caminho. Ajuda a respeitar o outro”, diz Francisco.
Aos jovens que o questionaram sobre o “caos” que se vive, Francisco explicou a origem da palavra crise e sublinhou que “uma vida sem dificuldades é uma vida asséptica". "É como água destilada. Não tem sabor”. Por isso, o Papa deixou um pedido a estes jovens: “Há que enfrentar as crises”.
Num registo descontraído, como se estivesse em casa nesta que é uma das 190 representações de uma instituição que criou, Francisco disse ainda que é preciso “passar do caos para o cósmico”. Desabafando, disse que “não queria fazer de catequista”, mas apontou: “somos chamados a dar sentido” e a vida, por vezes, enfrenta provações.
Mensagens escutadas numa sala onde marcaram também presença o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o autarca de Cascais, Carlos Carreiras, e o seu vice-presidente Miguel Pinto Luz; o presidente da Fundação Jornada Mundial da Juventude, o cardeal D. Américo Aguiar e o padre Nuno Coelho, prior de Cascais, bem como alguns dos jovens que colaboram com a Scholas Occurrentes.
Em Cascais, Francisco deixou também um presente. Trouxe um quadro e explicou aos jovens tratar-se de “O Bom Samaritano”. O Papa sublinhou: “Nenhum está excluído de ser o Bom Samaritano”.
A fechar a sua intervenção, Francisco pediu, como é sempre seu hábito, para que rezem por ele. "Mesmo que não rezem por mim, mandem uma boa onda!”, pediu, num concelho onde o surf é desporto rei.
Já no pátio, o Papa, que se deslocou em cadeira de roda, abençoou uma oliveira que está no canto do jardim da escola enquanto a fadista Cuca Roseta interpretou à capela o tema “Recado” e tocou à guitarra um “Avé Maria”.
Ao longo do percurso de três quilómetros onde foi colocado o mural pintado por cerca de três mil pessoas, estavam espalhadas milhares de pessoas que quiseram ver a passagem do Papa Francisco, naquela que é a primeira deslocação de um alto representante do Vaticano ao concelho de Cascais.
Nem todos conseguiram chegar às ruas estreitas onde fica a Scholas Occurrentes. Quem conseguiu chegar mais perto gritou vivas ao Papa quando este saiu do carro para entrar na instituição.
Já depois da visita do Papa, muito emocionado, o autarca de Cascais, Carlos Carreiras revela à Renascença como é que surgiu a ideia de Francisco chamar “Capela Sistina” à sala onde esteve.
“Isso era uma piada, porque o José Maria Corral dizia que tinha feito aqui uma Capela Sistina e, pelos vistos, deve ter dito isso também ao Santo Padre. A casa ficou pintada e o mural acabou por ficar com 3500 metros, mais aquele bocado dentro da casa que também faz parte do mural”, revela Carlos Carreiras à Renascença.
Já depois da saída de Francisco rumo a Lisboa, a “Capela Sistina” encheu-se de dezenas de jovens que colaboram com o projeto da Scholas Occurrentes. Tiraram uma foto de família. Entre eles estavam Margarida e Rafael, dois jovens de 18 anos, ela do concelho de Oeiras e ele de Cascais que frequentam a escola.
Questionados pela Renascença sobre esta visita papal, Margarida confessava “muita alegria". "É uma experiência única, inovadora”. Depois de escutar as palavras de Francisco, Margarida conta o que reteve: “O conselho que ele deu é para os jovens não ficarem agarrados à zona de conforto e viverem experiências novas”.
Já Rafael afirma: “Sem dúvida, é um momento que nos vai marcar para o resto das nossas vidas... saber que estivemos com o Papa tão perto e que tivemos a oportunidade de estar num projeto incrível, com pessoas incríveis e participar no mural de três quilómetros e meio, que é algo inédito".