05 set, 2023 - 08:46 • Redação
O diretor do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) alerta que a vacinação contra a covid-19 não protege as pessoas definitivamente. Em reação às dúvidas na eficácia da vacinação contra a nova variante Eris, Henrique Barros defende a importância do reforço da vacinação para a renovação da proteção das populações.
"O que é importante é perceber que a proteção desta vacina não é uma proteção para a vida ou para muitos anos. O processo de proteção tem de ser repetido para renovar a nossa capacidade de estarmos defendidos da infeção", argumenta.
O epidemiologista lamenta a perceção que se criou de que seria possível erradicar o vírus com as medidas de proteção. Lembra que a população vai ter de se adaptar a conviver com novas espécies como o vírus da covid-19.
"Foi um erro que muita gente propalou, infelizmente. Foi a ideia que o vírus era como alguém que batesse à nossa porta, entrasse em casa e se fosse embora. Mas não. Ele está aí, ainda tem momentos de aceleração, de maior presença - como está a acontecer -, e vai continuar entre nós, seguramente", lembra.
Semana com maior número de casos em oito meses. Pn(...)
Henrique Barros explica que há uma grande probabilidade de surgirem novas infeções que inspirarão dispositivos de prevenção e tratamento semelhantes aos mobilizados para combater a covid-19. O diretor do ISPUP realça que há um desiquilíbrio na coexistência das espécies no planeta, provocado essencialmente pela atividade humana, que acelera este tipo de fenómenos virais.
"É importante saber como nos preparamos para outras infeções que possam vir a ocorrer semelhantes a esta, ou de outra natureza, e que são resultado de um conjunto de perturbações que todos estamos a viver, como sejam as alterações climáticas, as grandes movimentações de massas humanas para as cidades, a invasão dos espaços ecológicos e as perturbações da biodiversidade. Tudo isto faz com que o equilíbrio que existia entre as diferentes espécies, entre nós humanos - como hospedeiros - e os agentes infecciosos, se esteja a perder e haja oportunidades para o aparecimento e a circulação de novos agente", atira.
Os processos de vacinação contra a covid-19, outras infeções e a descentralização dos serviços de saúde como forma empoderamento dos cidadãos são alguns dos temas em debate na 41.ª Reunião Anual da Sociedade Espanhola de Epidemiologia e o 18.º Congresso da Associação Portuguesa de Epidemiologia, que decorrem em conjunto, no Porto.
O encontro, que arranca esta terça-feira, tem previstos vários momentos de debate e é aberto à participação da sociedade civil. Sob o lema "Epidemiologia para construir o futuro", estão inscritos cerca de mil especialistas, desde epidemiologistas a outros profissionais de saúde.
Esta segunda-feira, às 17h00, decorre uma sessão aberta à população na reitoria da Universidade do Porto, onde Henrique de Barros incentiva à participação da sociedade civil, que pode aproveitar o encontro para "falar com os especialistas".