05 set, 2023 - 21:20 • Anabela Góis com Redação
Seis médicos do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, apresentaram a demissão. A notícia, avançada pelo Expresso, foi confirmada à Renascença por Luísa Pinto, ex-diretora de obstetrícia que apresentou o pedido de exoneração esta terça-feira de manhã.
Luísa Pinto foi uma das obstetras que questionou o plano da Direção Executiva do Serviço Nacional de Saúde (SNS), que prevê a concentração de serviços no hospital S. Francisco Xavier enquanto o bloco de partos do hospital de Santa Maria está fechado para obras.
Ouvido pela Renascença, Luís Campos Pinheiro, da secção Sul da Ordem dos Médicos diz que “não é um desastre mas é uma situação que tem de ser acompanhada” numa altura em que são muitos os médicos que abandonam o SNS para o setor privado e o Serviço Nacional de Saúde continua a não ter capacidade para atrair novos profissionais.
Luís Campos Pinheiro diz que a Ordem dos Médicos falou de imediato com o diretor de Obstetrícia do CHULN, cargo que é desempenhado interinamente por Alexandre Valentim Lourenço. “O que ele nos disse é que estas pessoas já tinham anunciado que iam sair, portanto, eram saídas esperadas e estavam preparados para elas”. “Claro que – adianta o responsável da Ordem dos médicos – se já estavam a trabalhar com poucas pessoas isto vai agravar a situação. Tinham 36 pessoas, passam a ter 30”.
Ainda segundo Luís Campos Pinheiro, o responsável pelo Serviço de Obstetrícia garantiu-lhe que “três dos internos mais velhos, que vão fazer agora o exame de saída, pretendem ficar e que o Centro hospitalar está a tentar fazer novas contratações”.
O problema não fica resolvido mas a Ordem dos Médicos “está atenta, está a tentar pacificar a situação e a promover o diálogo entre médicos e Conselho de Administração, no sentido de salvaguardar os doentes, salvaguardar a formação, de forma que, quando as obras terminarem e o bloco de partos abrir a situação volte ao normal”.
Contactado pela Renascença, o Centro Hospitalar limita-se a confirmar que houve pedidos de rescisão, mas não diz quantos.
À Ordem dos Médicos chegaram denuncias de que as urgências de obstetrícia do hospital São Francisco Xavier – que desde 1 de agosto estão a ser asseguradas por médicos dos dois hospitais – funcionam sem o número de especialistas necessário, o que, coloca em risco o internato médico.
Luís Campos Pinheiro confirma à Renascença que “há algumas situações em que o número de Obstetras é menor do que aquele que é o recomendado” mas diz também que o “Conselho de Administração tem em curso um plano de contingência, pelo que a situação não apresenta risco para grávidas e bebés”. O que acontece – explica – é que “se a afluência aumentar, se o movimento aumentar muito, algumas grávidas serão desviadas para os hospitais privados”.
O Colégio de Obstetrícia da Ordem dos Médicos promete visitar em breve o Hospital S. Francisco Xavier para confirmar se – diz Luis Campos Pinheiro - as “respostas que nos pareceram convincentes estão, de facto, a ser aplicadas na prática. É isso que vamos ver no terreno”.