19 set, 2023 - 13:14 • João Cunha , Isabel Pacheco
É um problema “generalizado, social e de saúde”. É desta forma que o presidente do Conselho Económico e Social (CES), Francisco Assis, caracteriza as conclusões do estudo “Quem paga a raspadinha”, sobre o perfil de utilizadores e níveis de doenças associadas a este tipo de jogo, que foi apresentado esta terça-feira.
Segundo o estudo, encomendado pelo CES em parceria com a Universidade do Minho (UM), há mais de 100 mil portugueses viciados neste jogo.
Para o presidente do CES, Francisco Assis, este estudo abre caminho a que sejam tomadas medidas pelo Governo.
“Parece-me evidente que algumas coisas têm de ser feitas”, defendeu. “Primeiro, a tomada de consciência do Governo, depois, a forma como as raspadinhas são apresentadas e publicitadas”.
“É preciso que as pessoas tenham noção do que estão a fazer. As pessoas pensam que vão ganhar dinheiro, há aqui uma expectativa que está condenada”, alertou Francisco Assis, garantindo que o estudo será disponibilizado, na sua totalidade, para o “Governo, para a Santa Casa e para o país”.
Sobre as dúvidas da Rede Europeia Anti-Pobreza, que considera que a criação de um cartão de jogador - uma das medidas sugeridas pelo estudo- pode violar direitos individuais, Luís Aguiar-Conraria discorda.
Para o professor da Universidade do Minho, não faz sentido “falar de liberdade individual, quando um quarto dos jogadores apresenta risco de jogo problemático e já temos 6 a 7% de pessoas identificadas como sofrendo de jogo patológico. Liberdade individual?”
Pedro Morgado, professor da escola de Medicina da UM e um dos responsáveis pela investigação, revelou que, segundo o estudo, “3,09% dos adultos estão em risco de desenvolver problemas de jogo de qualquer modalidade”.
Na raspadinha, especificou, “podemos ter uma população de 1,28% entre os adultos afetada por comportamentos de jogo problemático. Ou seja, 100 mil adultos dos quais 30 mil já com sinais de perturbação de jogo patológico”, alertou.
Ainda de acordo com a investigação, as pessoas com problemas com raspadinhas têm “piores indicadores de saúde mental como sintomas depressivos, ansiosos e de stress”, descreveu o, também, psiquiatra.
Quanto ao consumo deste tipo de jogo “é mais comum em pessoas de baixos rendimentos, com o ensino básico e secundário. Aqui, falamos de probabilidades entre 4 a 6 vezes superior quando comparado com pessoas com mestrado ou doutoramento”, rematou.