Músico, compositor e professor, Marco Veiga é um dos resistentes que permanece no centro comercial STOP, no Porto, a poucos dias do fim do prazo dado para desocupar o edifício. Encontramo-lo na sala arrendada que, há 15 anos, é a sua segunda casa e o seu ganha-pão.
“É o meu ganha-pão e, ao mesmo tempo, a minha paixão. A partir daqui cortam-te as bases e não podes fazer o teu trabalho. Não temos culpa de não termos trabalhos mais convencionais”, aponta o portuense, que reconhece não ter espaço alternativo para trabalhar.
Sobre o centro comercial, que funciona há vinte anos como espaço cultural, Marco descreve como “um lugar mágico e de paixões” dos vários artistas que ficam, agora, sem opção e aponta o dedo à autarquia portuense.
“Deveria ter já preparado salas para que as pessoas pudessem sair daqui e ir para outro lugar sem ficarem de mãos a abanar”, defende. “Nem toda a gente tem sítio para guardar o material”, lembra.
A Guilherme Barros, pintor e escritor, é o silêncio que, nos últimos dias, mais lhe tem custado.
“Tem sido doloroso assistir a isto”, desabafa o artista. “Ainda ontem estava a trabalhar e deu-me a sensação de silêncio e o STOP nunca teve silêncio. Simplesmente, pus opera a tocar porque esta é uma casa com música”.
Há 10 anos que Guilherme ocupa uma sala do segundo andar do centro comercial. É lá que tem a oficina de Reparação de Letras.
“Aqui escreve-se e pinta-se e cria-se inspiração a partir dos músicos e dá-se inspiração aos músicos. É esta a forma de coabitarmos aqui dentro”, explica o portuense ao abrir a porta da oficina onde estão guardadas mais de 50 telas. Algumas delas com mais de três metros de altura.
Quanto à decisão de fechar as portas do centro comercial, Guilherme lamenta a falta de diálogo em encontrar soluções para o espaço cultural que é, por muitos, considerado único na europa.
“A solução seria uma questão de bom senso e de as pessoas envolvidas terem usado palavras”, resume.
“Este centro comercial é um 'case study'. Já tive aqui, na oficina, jornalistas do The Guardian e outros meios de comunicação internacional e dizem-me que não há nada disto na Europa”.
Os arrendatários do centro comercial têm até 6 de outubro para desocuparem o espaço, o que estava previsto para esta sexta-feira.
Segundo a câmara municipal do Porto, em causa está a falta de condições de segurança do edifício, que serve de casa a quase 500 artistas, e que desde agosto permanece com os bombeiros à porta.