22 set, 2023 - 15:37 • Filipa Ribeiro , com Lusa
Algumas centenas de professores e não docentes manifestaram-se esta sexta-feira em Lisboa, num protesto convocado pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (Stop) em defesa da escola pública e por melhores condições de trabalho.
À hora marcada, pelas 14h00, perto de duas centenas de professores e não docentes já se concentravam na rua Possidónio da Silva, junto à Presidência do Conselho de Ministros, quando chegou também o coordenador do Stop, André Pestana.
Aos jornalistas, o dirigente sindical afirmou que "o ministro da Educação não tem soluções, por isso nós vamos pressionar".
Pestana sublinhou que o que está em causa no protesto dos professores é a continuidade da escola pública: "Estamos na luta por melhores condições dentro das escolas e para que as pessoas entendam que profissionais da educação roubados, desconsiderados e desmotivados, por muito esforço que façam, não podem dar o melhor às nossas crianças, o que elas precisam e merecem".
A propósito dos problemas da escola pública, o coordenador do Stop lembrou ainda que perto de 100 mil alunos iniciaram, na semana passada, o ano letivo sem todos os professores atribuídos, sublinhando que, por outro lado, faltam também assistentes técnicos e operacionais.
"Seria insólito que num ano letivo que começa assim não houvesse também um protesto a sinalizar esta situação que prejudica muito crianças e jovens”, disse André Pestana.
Uma das soluções avançada pelo Ministério da Educação para tentar resolver o problema da falta de professores passa por contratar mais docentes com habilitações inferiores.
Uma solução que não convence o líder do Stop. O ministro “baixou claramente os critérios para se poder dar aulas” o que prejudica “a qualidade das aprendizagens aos alunos”, declarou.
“Milhares e milhares de alunos que estão a ter aulas com pessoas que não têm a formação pedagógica e profissional de um professor", disse André Pestana.
O representante do Stop comentou também um eventual desagrado dos pais com a existência de novas greves dos professores no arranque do ano letivo.
“Os pais também têm de perceber é que não é só a questão da falta de professores. É também os milhares e milhares de alunos, os vossos filhos e netos que estão a ter aulas neste momento”, referiu.
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Pouco a pouco, foram juntando-se mais profissionais naquela que é a primeira manifestação de profissionais das escolas no ano letivo 2023/2024 e que encerra uma semana de greve convocada pelo Stop.
O percurso da marcha não foi escolhido ao acaso, explicou André Pestana. Por um lado, começando na presidência do Conselho de Ministros porque, segundo André Pestana, o ministro da Educação demonstrou não ter capacidade para responder às reivindicações e, por outro lado, terminando na Assembleia da República "onde também são aprovadas muitas leis".
Cerca das 14h30 a mancha de manifestantes iniciou o percurso a rumo à Assembleia da República, ao som de apitos, tambores e palavras de ordem como "Não paramos" ou "Está na hora, está na hora de o ministro ir embora".
Georgina Espírito Santo veio de Espinho para participar. Todos os anos fica colocada numa nova escola, o que a obriga a “conhecer novas realidades, novos alunos, novos colegas. É uma ansiedade”, diz a docente à Renascença.
“Vou fazer 39 anos e não consigo sair de casa dos meus pais . É a minha triste realidade e a de muitos professores que deixam os filhos em casa. Isto não é vida para ninguém”, contou.
Outra professora, Dulce Salgueiro, descreve à Renascença os impactos da não contabilização do tempo de serviço: “Estou no oitavo escalão com 36 anos [de serviço]. Já deveria estar no décimo. Vou-me reformar com uma pensão mais baixa do que aquilo que deveria e muitos dos meus colegas nem sequer a isso vão ter direito, já que nem a metade da carreira vão chegar, não é?”
Depois de um ano letivo muito marcado por greves e protestos, os professores e não docentes prometem dar continuidade à contestação até que o Ministério da Educação aceite as reivindicações dos trabalhadores, sobretudo a recuperação do tempo de serviço congelado: seis anos, seis meses e 23 dias.