03 out, 2023 - 19:02 • Anabela Góis , João Pedro Quesado
Oito dos 14 cirurgiões que fazem urgência no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, entregaram a escusa a trabalhar além das 150 horas extraordinárias previstas na lei. De acordo com o diretor clínico, a unidade de saúde apenas garante esta especialidade até meio de outubro.
Em declarações à Renascença, Rui Tato Marinho declarou que, além dos oito cirurgiões, a urgência já está a ser pressionada por um maior fluxo de doentes que chegam de outros hospitais com constrangimentos - esta segunda-feira, foram atendidas mais de 500 pessoas no Serviço de Urgência do hospital.
"Tem sido difícil, se calhar vai ser mais difícil se isto não se resolver", confessou o diretor clínico, que explicou que estão "mais ou menos asseguradas as escalas do serviço de cirurgia até dia 15, portanto, durante duas semanas, com alguns constrangimentos e muitos à custa de médicos que já não deveriam fazer urgência até pelo limite de idade".
Além das escusas entregues pelos cirurgiões, "todos ou quase todos" os internos da mesma especialidade seguiram o mesmo rumo e entregaram o mesmo documento - o que "não quer dizer que não façam 12 horas semanais".
O Centro Hospitalar Lisboa Norte tem contratado médicos tarefeiros "ao longo dos últimos meses", o que reforçou as equipas de Medicina Interna e Ortopedia do Serviço de Urgência.
Rui Tato Marinho apontou que as medidas tomadas "não são as medidas definitivas, porque nós não esperávamos, há um ou dois anos atrás, que alguns hospitais aqui da zona de Lisboa e Vale do Tejo entrassem numa situação de dificuldade".
"Neste momento há vários hospitais da zona centro que não têm cirurgia todos os dias. Portanto, nós não estávamos à espera disto, nem desta escusa. De modo que adivinhando o futuro, começámos a tomar algumas medidas que foi contratar mais médicos para o serviço de urgência. Temos vindo a reforçar em quantidade e em qualidade, o serviço de urgência", explicou o diretor clínico, antes de relatar a criação de quatro enfermeiros dedicados à gestão das camas do hospital.
"A cama do hospital é um recurso limitado, muito necessário, onde há uma rotação muito grande, portanto, criámos uma equipa para saber onde é que há camas vagas para internar as pessoas que precisam na urgência. Temos uma nova liderança da urgência", contou Rui Tato Marinho.
Esta terça-feira, o movimento Médicos em Luta apontou que há constrangimentos em 27 hospitais do país devido ao facto de os médicos se recusarem a fazer mais horas extraordinárias do que as 150 que a lei lhes impõe.