04 out, 2023 - 11:57 • Manuela Pires
Nesta altura são já sete os médicos do serviço de Obstetrícia e Ginecologia do Hospital de Santa Maria que pediram demissão e a ex-diretora do serviço Luisa Pinto acredita que este número pode aumentar nos próximos tempos.
O número é avançado por Luísa Pinto, que está a ser ouvida no Parlamento esta quarta-feira, na qualidade de representante das demissionárias do serviço de obstetrícia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, a requerimento do Bloco de Esquerda.
“Não seria deontológico continuar a pactuar com a falta de condições no nosso trabalho. Foram os motivos que levaram à rescisão de sete elementos e há forte possibilidade de vir a haver mais rescisões” revelou.
A médica, que também apresentou a demissão no verão, enumerou aos deputados as razões que levaram os médicos a apresentarem a demissão: falta de organização que gerou o caos no serviço e a redução das equipas o que leva a uma falta de segurança quer para as grávidas, quer para os recém-nascidos.
“Desde julho que as equipas tinham em Santa Maria três elementos e depois, quando passámos para o Hospital de São Francisco Xavier, o número continuou a não ser suficiente. Face a esta situação, os médicos que rescindiram concluíram que não podiam pactuar com esta falta de segurança, que implica riscos e que pode ter consequências dramáticas para as grávidas e para os recém-nascidos” disse Luisa Pinto.
A médica referiu ainda que outra razão para estas saídas foi a demissão dos diretores do departamento de obstetrícia, entre eles o médio Diogo Aires de Campos.
O Hospital Santa Maria, em Lisboa, garantia em julho que os preparativos para as obras da nova maternidade arrancavam em agosto e que os trabalhos estariam no terreno em setembro, mas Luisa Pinto revelou esta manhã aos deputados da comissão de saúde que as obras ainda não arrancaram e sugeriu aos parlamentares uma visita ao Hospital de Santa Maria.
“A obra iria começar a um de agosto mas até agora ainda não começou, até tenho fotografias que posso mostrar” disse Luisa Pinto aos deputados.
Questionada pelos deputados na comissão parlamentar de saúde sobre o número de grávidas que está a optar pelos serviços privados para fazer o parto, Luisa Pinto disse ainda não acreditar nos números oficiais que dão conta de apenas 1% de mulheres que estão a sair do SNS para o privado.
“Foi dito que menos de 1% de grávidas foi transferida para o privado. Estes devem ser os números oficiais, mas todos os dias temos no consultório grávidas que nos dizem que perante esta situação de instabilidade não querem correr riscos e vão para o privado” disse Luisa Pinto.
A ex-directora do serviço de obstetrícia e ginecologia do Hospital Santa Maria, que se demitiu em julho, revelou ainda que os médicos ultrapassaram em muito as horas extraordinárias que são permitidas, chegando a fazer 900 horas extraordinárias.
“No ano passado houve profissionais que realizaram 900 horas sendo a média 700 horas, o que equivale a três meses de trabalho num horário de 40 horas” garantiu a médica obstetra Luisa Pinto.
Luisa Pinto foi chamada pelo Bloco de Esquerda para prestar esclarecimentos na qualidade de representante das demissionárias do serviço de obstetrícia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte.