11 out, 2023 - 13:58 • Lusa
O diretor interino do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia do Hospital Santa Maria alertou esta quarta-feira que 14 mil mulheres migrantes tiveram filhos em Portugal em 2022, muitas delas sem acompanhamento médico e com patologias.
Numa audição na Comissão de Saúde, Alexandre Lourenço manifestou preocupação com esta situação, defendendo que Portugal tem de dar “um passo de modernidade”, reestruturando “a forma de organização e preservando o Serviço Nacional de Saúde (SNS) para aquilo que ele faz de melhor: tratar os casos muito difíceis e prestar a acessibilidade às populações que não têm acesso”.
“Neste momento, preocupam-me os 14.000 partos que tivemos no ano passado em Portugal de mulheres migrantes, muitas delas sem assistência”, e que tinham chegado a Portugal há meses, disse o especialista na audição, onde foi ouvido, a pedido do Bloco de Esquerda, o conselho de administração do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN) “sobre a demissão de vários médicos especialistas em obstetrícia motivada por uma degradação das condições laborais e assistenciais”.
Alexandre Lourenço adiantou que tem estado de “urgência sistematicamente”, duas a três vezes por semana, e que 60% dos partos no hospital de São Francisco Xavier e antes no Hospital Santa Maria, ambos em Lisboa, são de migrantes sem assistência nos cuidados de saúde primários.
“Migrantes que chegam dois ou três meses antes, migrantes que trazem patologias que, às vezes, nem sequer conhecemos ou que não estão descritas e [para] esses sim, temos que ter novas soluções e para isso, o Hospital de Santa Maria tem que se preparar com uma maternidade muito moderna, com um corpo clínico muito diferenciado”, defendeu.
No dia 01 de agosto, a maternidade do Hospital Santa Maria encerrou para obras, que devem estar concluídas em abril de 2024, estando os serviços concentrados no Hospital São Francisco Xavier.
Durante este processo, sete especialistas apresentaram demissão, alegando a degradação das condições laborais e assistenciais.
Alexandre Lourenço contou que alguns destes médicos foram seus internos e, quando lhe comunicaram a sua decisão, alguns disseram que “gostaria muito de continuar”, mas não conseguem devido à situação que têm, “num sistema que lhes paga 1.600 euros líquidos por mês, quando os que saíram nos últimos 10 anos, e são muitos, recebem seis a sete vezes mais na medicina privada e chegam a casa às 04 da tarde para ver os seus filhos”.
“Nós fazemos um trabalho hercúleo. Dotamos de capacidade diferenciadora, mas precisamos também da ajuda dos senhores deputados e do Governo para prestar condições diferentes, para que estes excelentes profissionais queiram permanecer e não fiquem apenas dois ou três anos no SNS”, apelou o especialista.