11 out, 2023 - 14:16 • Redação
A falta de profissionais de psicologia resulta em longas listas de espera, ainda que existam, atualmente, cerca de 27 mil profissionais inscritos na Ordem dos Psicológos Portugueses (OPP). O problema não passa pela falta de psicólogos para trabalhar, mas pela quantidade de vagas para estes profissionais exercerem a sua profissão.
“Nos últimos anos, houve uma melhoria do acesso dos profissionais a atividades na área da psicologia”, diz à Renascença Tiago Pereira, membro da direção da OPP.
“Ainda existem situações de pessoas, quer diplomados, quer já profissionais, que têm dificuldade em encontrar um trabalho na área, e isso é algo que a Ordem, num compromisso com aquilo que é a procura da melhoria dos serviços prestados aos cidadãos nesta área, tem procurado afirmar publicamente, numa tentativa de garantir uma melhor compreensão sobre qual é o papel da psicologia.”
“Tem havido um trabalho e um impulso forte da Ordem de advogar, particularmente junto das entidades públicas, nomeadamente o governo, por aquilo que tem que ser o aumento do número de psicólogas e psicólogos em alguns serviços públicos, com destaque na área da saúde e também da justiça”, refere o psicológo.
A OPP reconhece que a procura nessas atividades profissionais tem que ver com “o grande investimento” que Portugal fez ao longo das últimas décadas na formação de psicólogos. “É uma profissão muito recente, que tem muito pouca saída e muita entrada de novos profissionais.”
No entanto, o psicólogo adverte haver espaço para uma integração possível de profissionais da saúde mental no mercado de trabalho, devido à procura “cada vez maior” por parte dos cidadãos. Tiago Pereira diz que tanto os serviços públicos como alguns privados estão “cheios e com listas de espera”, o que subentende que “os serviços estão subdimensionados face à procura”.
O inquérito socioprofissional que foi realizado pela OPP e publicado no ano passado faz um retrato daquilo que são as comissões socioprofissionais na área da psicologia. Como já referido no artigo da Renascença, 4,1% dos inquiridos referiu que, no período pré-pandemia, não trabalhava enquanto psicólogo ou estava em situação de desemprego; esse valor desceu para 1,5% no pós-pandemia.
“É uma redução muito significativa e que se conjuga com um outro dado também recolhido por esse inquérito, que mostra que houve um aumento de cerca de 30% daquilo que foi a procura dos seus serviços durante o período da pandemia e após a pandemia”, explica Tiago Pereira.
Os anos de 2021 e 2022 foram “dois dos melhores anos de sempre em termos de novos anos profissionais juniores”, indica Tiago Pereira. Houve 1.111 novos estágios profissionais em 2021, 1.185 em 2022 e, até setembro deste ano, a OPP já conta com 951.
“Isso faz com que 2023 vá ser também um ano excecionalmente significativo em termos de número de novos estágios profissionais.”
"Todo e qualquer diplomado - alguém que termina o curso de dois ciclos em psicologia - que tenha uma oportunidade de trabalho em psicologia não é privado de aceitar essa oportunidade se ainda não tiver feito o seu ano profissional júnior”, esclarece. “O estágio profissional não é mais do que um primeiro ano de prática profissional que tem que ser supervisionada, mas não priva ninguém de ter uma oportunidade."
O ano profissional júnior "não veda o acesso de nenhum diplomado em psicologia a uma atividade profissional em psicologia”, acrescenta. Em todo o caso, continuam a existir 31 instituições de Ensino Superior com formação em Psicologia e, portanto, “há um universo grande de diplomados”.
A OPP estima que, a cada ano, terminam o segundo ciclo em Psicologia cerca de 1.200 estudantes. “Se olharmos para os dados nestes últimos dois anos, vemos que são um número muito próximo dos 1.200 e isso pode demonstrar que ainda há uma capacidade muito significativa do mercado de requerer o trabalho dos psicólogos que estão a ser formados.”
Ainda assim, contrapõe, “se olharmos para as carências que existem nos serviços públicos, certamente verificaremos um tremendo espaço para crescer, ao nível de profissionais já efetivos”.
O SNS, de momento, tem mil psicólogos. “Ninguém nega que temos, rapidamente, de crescer o número de psicólogos no SNS”, afirma o membro da direção da OPP.
No Dia Nacional dos Psicólogos, a 4 de setembro, o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, prometeu que vão existir vagas específicas para anos profissionais júnior na área da saúde, e, portanto, “há todo um espaço de crescimento para se poder reforçar ainda mais o número de anos profissionais júnior”.
Tiago Pereira conta que a Ordem recebe muitos “contactos por parte de clientes que procuram serviços e que não os encontram”, o que reforça a noção de “alguma capacidade de absorção do mercado”.
O psicólogo acredita numa reflexão ampla das várias componentes da sociedade e diz ser necessário expandir a formação dos profissionais de Psicologia para áreas em ascensão, como as novas tecnologias ou a área da transição climática.
“É necessário um reforço de profissionais a trabalharem este tipo de temáticas emergentes, e perceber o papel que se pode ter em termos do benefício para a sociedade e para as pessoas.”