12 out, 2023 - 01:58 • Marisa Gonçalves
A 11ª edição do Prémio MSD Maria José Nogueira Pinto distinguiu um projeto que pretende melhorar a distribuição de alimentos aos mais carenciados na região do Algarve. Chama-se "E-Integrar" e surge no âmbito da Associação Pró-Partilha e Inserção do Algarve, em colaboração com o Banco Alimentar.
Nuno Alves, um dos responsáveis pelo projeto, sublinha à Renascença que o trabalho sazonal ligado ao turismo, para além dos baixos salários e de um aumento da inflação são fatores que fazem com que os pedidos de ajuda continuem a chegar.
“É normal no Algarve haver um aumento de procura assim que o Verão termina, face à questão da sazonalidade da região. Há muitas pessoas que estão a terminar os contratos de trabalho, na hotelaria e no turismo, acabando por começar a pedir apoio novamente ao Banco Alimentar. O que posso acrescentar de preocupante é o facto de, apesar de já ter passado a pandemia, ainda não estarmos em valores pré-pandemia. Estamos muito longe disso”, lamenta em declarações à Renascença.
Nesta altura, o Banco Alimentar Contra a Fome do Algarve apoia 22.500 pessoas. O número é superior àquele verificado antes do período pandémico, quando se registavam cerca de 15 mil e 500 pessoas a precisar de apoio.
A distinção agora atribuída vem com uma ajuda financeira. Este projeto vai receber 15 mil euros que serão aplicados, essencialmente, na construção de uma plataforma digital de gestão e distribuição do apoio alimentar, para colmatar necessidades essenciais.
“Através da plataforma, do recato, podemos dar à pessoas a possibilidade de poderem aceder ao apoio alimentar sem estarem expostas. Por outro lado, também através da plataforma, permitir que se cruze toda a informação e que os alimentos cheguem a quem realmente deles precisa e que haja maior equidade e maior justiça na distribuição dos alimentos, sem duplicação de apoios”, especifica.
Adianta ainda Nuno Alves que foi criada uma parceria com instituições académicas e de saúde para ajustar os critérios nutricionais, com base nas carências da população, quando “95 por cento da população, no Algarve, está em situação de insegurança alimentar”, sublinha Nuno Alves.
Nesse sentido, está estabelecida uma colaboração com a Universidade do Algarve e a Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto.
A 11ª edição do prémio Maria José Nogueira Pinto atribuiu ainda uma Primeira Menção Honrosa a um outro projeto sedeado em Vila Nova de Gaia e denominado "VolunTalento", da Pista Mágica.
Sónia Fernandes, a responsável, destaca uma proposta assente no combate à exclusão social, na deficiência.
"Nós queremos trabalhar precisamente com as pessoas que estão em situação de vulnerabilidade de forma a que sejam elas os agentes da mudança, na sua comunidade. Por exemplo, neste projeto as pessoas com deficiência são as cuidadoras. Pensamos em que podemos usar os nossos talentos para ajudar”, diz à Renascença.
O projeto aplica a metodologia “Voluntariado Apoiado” que prevê a capacitação e integração em atividades já existentes na comunidade, com o acompanhamento de uma pessoa técnica, que tem como função apoiar e mediar o contacto com a organização acolhedora.
A segunda Menção Honrosa foi entregue ao projeto da Associação para o Planeamento da Família que visa melhorar a resposta às vítimas de tráfico de seres humanos.
Sara Rocha, diretora executiva da Associação para o Planeamento da Família salienta que em Portugal, durante o ano de 2022, foram sinalizadas centenas de vítimas deste crime, sendo exploradas sexualmente, forçadas a trabalhar ou a mendigar, para além de terem sido detetados casos de servidão doméstica, outros relacionados com o mundo do futebol, bem como bebés e crianças vendidos para adoções ilegais.
“Ainda é uma causa que tem muito caminho para fazer, em Portugal. É uma situação que está a surgir com mais frequência e em muitos sítios, em muitas formas diferentes. Há cada vez mais situações incomuns como empresas de formação, onde as pessoas pensam que vêm fazer uma formação e depois ficam presas em redes de exploração. As redes nem sempre são de grande dimensão", alerta.
Sara Rocha afirma à Renascença que esta distinção "vai ajudar a trazer este problema para a luz do dia" e ajudar a ações de sensibilização.
Cada Menção Honrosa receberá um montante de 2.500 euros.
A cerimónia de entrega do Prémio e das Menções Honrosas decorreu esta quarta-feira, no Palácio dos Marqueses de Fronteira, em Lisboa, com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa e do Ministro da Saúde, Manuel Pizarro.