Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Fruticultura

"Corremos o risco de a pera rocha desaparecer da zona Oeste numa década"

06 nov, 2023 - 07:05 • João Cunha

Fogo bacteriano tem vindo a generalizar-se na zona Oeste, com prejuízos que este ano podem chegar aos 50 milhões de euros. Produtores apontam o dedo à morosidade da burocracia da Direção Regional de Agricultura e Pescas.

A+ / A-

O fogo bacteriano é doença provocada por uma bactéria que é disseminada por insetos, pela chuva e pelo vento, contaminando as flores e ramos em crescimento das árvores de fruto. Uma vez disseminado, penetra nos tecidos da árvore, que começa por apresentar manchas de cor castanha a negra nas margens e nervura central. Os ramos e jovens rebentos secam, ficam castanhos e a ponta do rebento encurva. Mais tarde, formam-se fendas irregulares na casca, evidenciando um aspeto geral de queima que dá origem à designação de “fogo bacteriano”.

Sempre que se detecta numa árvore a doença, são os próprios produtores que informam a DRAP - a Diurecção Regional de Agricultura e Pescas - que garante depois o cumprimento das medidas fitossanitárias para a erradicação dos focos da doença. As árvores doentes terão obrigatoriamente de ser arrancadas e queimadas - como indica um folheto informativo distribuido pela DRAP aos fruticultores.

Depois de informarem a DRAP, os proprietários dos pomares com árvores doentes aguardam depois por uma notificação que os obriga a destruir as árvores contaminadas. E é aqui que os produtores se queixam.

"A competência da DRAP é administrativa. É fazer as notificações do arranque das árvores doentes. Nós tentamos logo enviar contactos e moradas, porque não é a DRAP que faz esse trabalho. É muito mais um trabalho burocrático do que trabalho de campo. Mas mesmo assim, a resposta é que não têm tido recursos suficientes para fazer esse trabalho administrativo", explica Domingos dos Santos, dirigente da Frutoeste, uma organização de produtores na região Oeste e presidente da Federação Nacional de Associações de Produtores de Frutas e Horticolas.

A aplicação no terreno da portaria de controle fitossanitário do "fogo bacteriano" é feita pela Direção Regional de Agricultura e Pescas de Lisboa e Vale do Tejo. E aí é que as coisas não têm corrido bem, "porque há sempre a mesma desculpa: não há recursos para sermos efetivos no que fazemos", revela o também vice-presidente da CAP - a Confederação de Agricultores de Portugal.

E não garantindo que se trava a doença, esta está a provocar danos elevados na produção de pera rocha na zona Oeste.

"Eu estimo que mais de 50 milhões de euros sejam perdidos pela redução da produção provocada pelo fogo bacteriano".

A situação é de tal forma grave que Domingos dos Santos não hesita.

"Se não houver um trabalho eficiente e radical na forma de abordar este problema, corremos o risco do pomar de pera rocha desaparecer em 10 anos da zona Oeste".

A situação é tal que numa reunião recente, Domingos dos Santos não aceitou a justificação dada pelos responsáveis da Direção Regional de Agricultura e Pescas e exigiu o cumprimento da lei. E nessa altura, foi-lhe prometido que iam recrutar pessoas para as equipas de sanidade, "para fazer o acompanhamento muito mais em cima do que o que está a ser feito. Porque nestes últimos anos, tem sido catastrófica a forma de agir. As coisas não têm funcionado".

O também presidente da Associação Nacional de Produtores de Pera Rocha alerta ainda que, havendo menos pera rocha, haverá sempre uma certeza. O consumidor vai pagar mais, seja pela pera rocha nacional seja pela pera importada.

"Com menos produção nacional, teremos de importar fruta, que será 40 ou 50 por cento mais cara. Portanto, isto penaliza os produtores, os consumidores e o país.

Autarquias preocupadas

A economia circular e regional em torno da produção da pera rocha já está a sofrer prejuízos com as perdas na produção nos últimos anos. O concelho do Cadaval, por exemplo, onde cerca de 70 por cento da produção frutícola é de pera rocha, já "perdeu" 12 milhões de euros, como indica José Bernardo Nunes, presidente da Câmara Municipal do Cadaval.

"A quebra de produção em relação há dois anos são menos 12 milhões de euros num concelho com 14 mil habitantes, o que dá para ter uma ideia do que estamos a falar. É e economia do concelho todo. Esse dinheiro roda na economia. Se os agricultores receberem menos dinheiro, provavelmente compram menos fertilizantes e trocarão menos de máquinas agrícolas. Mas também compram menos automóveis, casas, roupa, vão menos aos restaurantes... Isto é uma economia circular, regional, em que são injetados menos 12 milhões de euros. E 12 milhões de euros é muito dinheiro".

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+