15 nov, 2023 - 13:00 • Marisa Gonçalves
Zita Martins leva mais de 20 anos de carreira científica. Já participou em vários projetos internacionais de investigação no âmbito da Agência Espacial Europeia (ESA) e, durante o seu doutoramento, foi cientista convidada da NASA.
Atualmente, é professora no Instituto Superior Técnico e investigadora do Centro de Química Estrutural.
Zita Martins conta à Renascença que acolheu o convite da Agência Espacial Europeia com um sentimento de honra e orgulho: “A primeira reação foi de muita alegria e muita honra. Tem sido um trabalho de duas décadas, nestas áreas da astrobiologia e das ciências planetárias. É um orgulho enorme sentir que os meus colegas, a nível internacional, reconheceram o meu trabalho."
No olhar espacial e científico de Zita Martins está inscrito o estudo de um cometa que nunca se aproximou do Sol. Abre-se caminho à missão Comet Interceptor, com lançamento previsto para 2029.
"Em linguagem corrente, nós dizemos que os cometas são bolas sujas de gelo. São também como que as nossas máquinas do tempo, porque alguns cometas nunca entraram dentro do nosso sistema solar. Se pensarmos num pedaço de gelo que nunca se aproximou da nossa estrela - portanto, o gelo nunca derreteu -, ele pode preservar as características iniciais do tempo da formação do nosso sistema solar", especifica.
Esse cometa ainda não está selecionado, mas Zita Martins diz que a expetativa é enorme.
A investigadora em ciências espaciais olha para o horizonte e fala noutras futuras missões.
"Temos recomendação para, dentro do sistema solar tentar visitar luas gelas de Júpiter e Saturno. E vamos também tentar ir a outros sistemas solares. É o caso da missão Ariel que deve ter o seu lançamento em 2029, para depois ir estudar a atmosfera de mais de 1.000 exoplanetas, são os planetas que orbitam outras estrelas sem ser o sol", adianta.
Dada a amostra, e tendo em conta a diversidade entre planetas rochosos e gasoso, o resultado promete ser precioso.
"Vai dar-nos informação para tentarmos perceber, por exemplo, se a química que existe na Terra é semelhante ou não. Há muitas questões da ciência e da tecnologia que vão ser desenvolvidas nos próximos anos, como esse fim", declara.
Mais adiante, em 2040, o objetivo será estudar as luas geladas do sistema solar. Uma missão que pode ajudar a explicar a origem da vida na terra.
"Os planetas Júpiter e Saturno têm luas com uma superfície de vários quilómetros que é feita de gelo. Significa um oceano com água líquida, o que tem despertado muito interesse da comunidade científica porque têm as condições ideais para que a vida se tenha desenvolvido e assim exista hoje", aponta.
Continua a ser um enigma a procura de respostas para a existência ou não de vida extraterrestre.
Sobre a comunidade científica portuguesa, a professora de Astrobiologia diz que há mérito, qualidade e reconhecimento internacional.
"Nós temos conhecimentos acumulados de muitos anos. Não é por acaso que há tantos cientistas portugueses envolvidos em missões espaciais. Sabemos que a média mais elevada é a do Curso de Engenharia Aeroespacial. Por outro lado, a indústria portuguesa nestas áreas do espaço também desenvolvido muito. Criaram-se empresas que estão a dar cartas a nível internacional", destaca.
Acrescenta Zita Martins que a criação da Agência Espacial Portuguesa é o reflexo da representação nacional no estrangeiro.
Portugal também oferece condições que ajudam a recriar o ambiente da lua, por exemplo. No Açores, a gruta do Natal, localizada na Ilha Terceira, prepara-se para receber sessões de treino para astronautas de diferentes agências espaciais.
"Temos o chamado análogo planetário que, neste momento, decorre nos Açores. Há vários locais na terra, nomeadamente desertos, onde se recolhem amostras e fazem essas simulações, seja do equipamento ou do comportamento humano", especifica.
A partir de janeiro de 2024 e até 2026, a astrobióloga Zita Martins vai levar a marca de Portugal até à Agência Espacial Europeia.