18 nov, 2023 - 03:52 • João Pedro Quesado
A construção da linha ferroviária de alta velocidade entre Porto e Lisboa voltou a ser contestada. Apesar de a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) ter dado luz verde ao troço entre Aveiro e Coimbra, a opção por uma “Alternativa Zero” voltou a surgir na consulta pública, com muitos a defenderem que não seja construída nenhuma linha nova.
Segundo a síntese das exposições recebidas, do relatório da consulta pública ao segundo troço da primeira fase da linha de alta velocidade, surgiu “forte contestação à implementação” desta infraestrutura: “a esmagadora maioria das exposições são contrárias à execução” do projeto, diz a APA.
A posição é defendida por “cidadãos, associações e outros representantes da sociedade civil e autarquias”. Entre as reservas que fazem questionar a “importância e necessidade do projeto” estão os impactos negativos “nos sistemas ecológicos, ambiente sonoro e vibrações, saúde humana, ordenamento do território, mas sobretudo no edificado, nomeadamente residências”. Um resumo que é exatamente igual à síntese da consulta pública do primeiro troço da primeira fase, entre Porto e Aveiro.
Uma das autarquias que se opõe ao projeto é a de Anadia, que considera a construção da linha de alta velocidade “desnecessária e desadequada à dimensão do país” e que “não serve os interesses do país”. A APA aponta ainda que foram recebidas “muitas dezenas de exposições modelo contra o projeto” oriundas do concelho de Anadia.
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A assembleia municipal de Anadia aprovou, por unanimidade, uma moção contra a construção da linha, alegando que esta “vai acentuar as diferenças já existentes na área da mobilidade entre as diversas regiões do país”, e que “as condições de expropriação” do projeto “não são corretas nem justas”.
O refrão “Alternativa Zero” também foi usado pelo município de Estarreja, que se opôs à construção da linha na consulta acerca do troço entre Porto Campanhã e Oiã e disse que o projeto “suscita um conjunto de perplexidades”.
No seu parecer, o município entende que “a intenção de criar interligações à Linha do Norte acrescenta fortes e irreparáveis impactes sociais e ambientais no território e nas populações de quatro freguesias”. Entre as preocupações ambientais estão potenciais efeitos nas zonas hídricas da ria de Aveiro, e o corte na zona de floresta.
A oposição à linha de alta velocidade ganhou forma no Movimento Cívico de Cidadãos de Canelas, freguesia onde está uma ligação à Linha do Norte. Com página no Facebook e uma petição que recolheu quase 2 mil assinaturas, os opositores referem que o concelho já é “extremamente fustigado por infraestruturas”, e destacam um velho argumento.
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Um argumento usado pelos municípios de Anadia e Estarreja é a preocupação com a “utilização de bitola ibérica”, e um consequente “isolamento ferroviário do país”.
Ao contrário do projeto montado durante a governação de José Sócrates, a nova linha de alta velocidade está projetada em bitola ibérica, com uma distância entre carris de 1668 milímetros. Esta opção permite que os comboios usem as atuais estações ferroviárias, ao contrário de obrigar a construir novas estações num sistema totalmente segregado do resto da rede ferroviária.
Para além de Portugal usar travessas polivalentes – que já permitem adotar a bitola europeia - em todas as obras ferroviárias, incluindo no projeto da linha de alta velocidade, e de não existir nenhuma linha espanhola em bitola europeia a chegar à fronteira portuguesa – nem sequer há planos para tal -, essa questão já tem outra solução.
Comboios como os espanhóis Alvia, de alta velocidade, possuem eixos telescópicos. Esses eixos permitem alterar a distância entre os rodados das carruagens em andamento, capacitando os comboios a circular em linhas de bitolas diferentes.