22 nov, 2023 - 01:19 • Marisa Gonçalves
“Esta missão vai permitir que, finalmente, coloquemos uma bandeira do nosso país nas missões análogas em todo o mundo”, afirma à Renascença Ana Pires, investigadora do INESC TEC, Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência.
Aquela que é também a comandante da missão explica que o local, a Gruta do Natal, na Ilha Terceira, não foi escolhido por acaso.
“Os tubos de lava são estruturas geológicas vulcânicas que já foram estudadas e identificadas tanto na Lua como em Marte. Suscitam interesse porque são estruturas subterrâneas que podem proteger os astronautas, por exemplo, dos efeitos da radiação. Queremos saber como é que um astronauta poderá viver num ambiente deste tipo”, adianta.
A equipa que estará dentro da gruta é composta por sete cientistas provenientes de cinco países e de onze áreas diferentes de investigação, incluindo três mulheres.
“Trata-se de um projeto científico que vai levar a aprender mais sobre a geologia da gruta e não só. Também traz disciplinas como o estudo do comportamento humano, psicologia e medicina remota. Vamos estar constantemente a ser bio monitorizados e cuidados pela nossa equipa médica que estará numa sala de controlo. É como se fosse uma simulação ao espaço”, diz.
Não vai faltar também uma componente didática para o exterior. Desde a Gruta do Natal vão realizar-se conferências para alunos de vários países.
“Vamos ter oportunidade de fazer quatro reuniões online onde vamos mostrar como decorre a nossa experiência aos estudantes de todas as ilhas dos Açores, do arquipélago da Madeira, do território continental, e também a alunos dos Estados Unidos, Porto Rico e Indonésia”, adianta a investigadora.
Esta é a primeira missão do projeto CAMões, Caving Analog Mission for Ocean, Earth and Space Exploration e conta com a colaboração da associação Os Montanheiros, que gere a gruta.
O presidente da associação, Paulo Barcelos diz que foi montado uma espécie de acampamento, no interior da gruta.
“Foi-nos pedida essa logística para instalar tendas e locais para os astronautas pernoitarem, com luz artificial e um espaço de refeitório”, conta.
A comida é semelhante àquela que os astronautas levam para o espaço e compõe-se de alimentos desidratados por refrigeração aos quais se junta água.
Porque é preciso cuidar também do corpo, haverá espaço para exercícios físicos.
“Vai haver um espaço de fitness para exercícios diários. A gruta é um ambiente rochoso e faz com que a locomoção seja lenta, daí que os músculos precisem de movimentos”, especifica.
Paulo Barcelos fala numa experiência “gratificante” e que vem dar mais “visibilidade” à associação Os Montanheiros.
A primeira missão análoga lunar vai decorrer de 22 a 28 de novembro, na Gruta do Natal, na Ilha Terceira.