28 nov, 2023 - 08:27 • Alexandre Abrantes Neves , Olímpia Mairos
Numa altura em que se continua a discutir qual a melhor localização para o novo aeroporto de Lisboa, surgem mais dados a mostrar como os aviões estão a aumentar a poluição na cidade.
Segundo um relatório divulgado esta terça-feira pela Associação Ambientalista Zero, a poluição do ar perto do Aeroporto Humberto Delgado já está em “níveis alarmantes”. E tudo devido às partículas ultrafinas. Não se conseguem ver, são 1.000 vezes mais pequenas do que um fio de cabelo, mas prejudicam muito o ar que respiramos e o principal culpado é o tráfego aéreo.
À Renascença, Pedro Nunes, da Zero, diz que os níveis destas partículas perto do aeroporto estão muito acima daquilo que é desejado para a saúde pública.
“O tráfego de aviões ainda é o principal, porque é, de facto, uma grande fonte deste tipo de partículas”, alerta.
O ambientalista explica que através de uma campanha de medição destas partículas em vários locais de Lisboa, com a influência e sem influência do aeroporto, chegaram a resultados preocupantes.
“Em locais muito próximos do aeroporto, como seja a Segunda Circular, mas fora da influência do tráfego rodoviário, nós registámos níveis destas partículas que são cerca de 40 vezes aquilo que é recomendável”, exemplifica.
A lei ainda não prevê limite legal para a emissão destas partículas, apesar de serem nocivas para a saúde. Pedro Nunes dá exemplos de algumas doenças que podem ser provocadas por estas substâncias.
Explicando que as partículas “são facilmente inaladas e entram praticamente de forma direta na corrente sanguínea através dos pulmões, onde se espalham depois a todo o organismo”, Pedro Nunes avisa que “causam uma série de lesões e doenças como seja doenças respiratórias, cardiovasculares, cancros e têm também influência depois no próprio cérebro, onde chegam, e inclusivamente em grávidas chegam ao feto”.
Para este especialista em energia e clima, o primeiro passo para resolver o problema passa por vigiar os níveis de partículas emitidos pelos aviões.
“Podem implementar uma rede de monitorização que, de facto, permita perceber qual é a situação nos vários pontos da cidade. Depois, há que mitigar o problema e para mitigar o problema primeiro, há que fazer uma avaliação dos procedimentos de aterragem e descolagem dos aviões e depois otimizá-los no sentido de reduzir as concentrações deste tipo de partículas ao nível do solo”, defende.
“E finalmente nós temos de facto uma infraestrutura aeroportuária que é incompatível com os níveis de saúde pública que nós queremos para a cidade de Lisboa e que são tidos como como aceitáveis. E, portanto, há que começar a pensar em desativá-lo no mais breve espaço de tempo possível”, conclui.