02 dez, 2023 - 15:56 • Lusa
Moradores de Miraflores e Algés, Oeiras, juntaram-se este sábado num protesto para reclamar obras que permitam escoar águas subterrâneas que estão a colocar em risco prédios na zona.
Na semana passada, o pavimento no Largo Comandante Augusto Madureira abateu, criando uma cratera numa zona de passagem da ribeira de Algés, encanada nos anos 1960, num sinal da degradação do solo numa zona fortemente urbanizada, e este sábado os moradores decidiram fazer um protesto para pedir a intervenção urgente das autoridades.
"Somos um conjunto de moradores de Miraflores e de Algés e temos estado a acompanhar com alguma preocupação todos os acontecimentos mais recentes", desde a cratera no chão aos danos em prédios da zona a que se soma a construção na encosta da serra sobranceira, afirmou Pedro Fonseca.
Ao seu lado, alguns manifestantes empunhavam cartazes onde se poderia ler "Algés, onde o provisório se torna definitivo", "cenário de catástrofe" ou "menos impermeabilização, segurança para os moradores".
Segundo o dirigente da Associação de Moradores de Miraflores, a questão não é apenas tapar o buraco que surgiu mas sim encontrar uma "solução efetiva" para a drenagem das águas subterrâneas, que passam pelos alicerces dos edifícios, "problemas que se têm vindo a acentuar com autorizações (de construção) em leito de cheia" de novos empreendimentos a montante deste local.
"Nós não estamos aqui contra A ou B, contra a Câmara ou contra o Governo" mas "queremos soluções que nos descansem", afirmou.
No início do século, chegou a ser discutida a duplicação dos canais subterrâneos da ribeira de Algés para assegurar um melhor escoamento das águas, com um orçamento de 150 mil euros, mas os sucessivos adiamentos fazem com que os "custos desta intervenção sejam hoje muito superiores", admitiu Pedro Fonseca.
Por isso, até que haja soluções hidráulicas permanentes, "a Câmara Municipal não pode continuar a licenciar a montante mais edifícios que condicionem a impermeabilização do subsolo", acrescentou.
Para já, a autarquia colocou barreiras à superfície para desviar a água da cratera em caso de chuva forte, mas "isso não resolve nada" e é um "penso rápido numa chaga velha", afirmou à Lusa Helena Abreu, da associação Desafiar Algés - Rede de Moradores, adiantando que a água da ribeira acaba por chegar à baixa de Algés e os danos são globais porque a "natureza não conhece fronteiras".
"Este é um troço subterrâneo completamente podre, que abre buracos aqui que abre buracos ali e acolá e deixa as pessoas completamente assustadas com medo que lhe abra um buraco na cozinha, porque o caneiro passa por baixo dos prédios", afirmou a dirigente, defendendo obras urgentes e o desvio da ribeira pela avenida principal da zona. .
Em Lisboa estão "a ser feitas obras grandes para escoar as águas, em Cascais também e aqui a Câmara tem dinheiro para construir fóruns de 64 milhões mas não tem dinheiro para arranjar o caneiro de Algés como deve ser e deixa Algés neste estado, a vivermos sempre com o coração nas mãos", acusou.
Ninguém ficou ferido, mas um homem chegou a cair n(...)
A CDU e o movimento Evoluir Oeiras responsabilizaram a Câmara local pelos problemas criados pela parte subterrânea da ribeira de Algés, que já provocou uma cratera e está a afetar a estabilidade dos prédios vizinhos.
Uma parte da zona encanada da ribeira ruiu, abrindo uma cratera no largo Comandante Augusto Madureira, um sinal da degradação das obras hidrológicas numa zona de encosta, fortemente impermeabilizada pelo elevado número de prédios, que exige obras estruturais, constantemente recusadas pela autarquia, acusaram representantes políticos da oposição que se associaram a uma manifestação de moradores.
“Muita gente está a empurrar com a barriga, mas a questão é que a Câmara também tem obras que são da sua responsabilidade exclusiva e não as faz e não as procura fazer”, afirmou à Lusa Mónica Albuquerque, deputada municipal pelo movimento Evoluir Oeiras.
Aníbal Guerreiro, deputado municipal eleito pela CDU, recorda que este problema é antigo e só pode ser resolvido com vontade política da autarquia.
“Há vários anos que nós temos levantado este problema da Ribeira de Algés e os perigos. Foi preciso haver uma morte no ano passado [durante as cheias na baixa de Algés] e quantas mais vai ser preciso para resolver este problema?” – afirmou o deputado, recordando que as obras de alargamento dos canais subterrâneos já foram prometidas no passado mas nunca foram realizadas.
"E, por outro lado, continua-se a construir, a construir acima desta zona, causando pressão sobre a ribeira que recebe água de quatro concelhos, Lisboa, Amadora, Sintra e Oeiras", adiantou.
A instabilidade dos solos motivou o voto contra da CDU sobre a construção do centro de saúde de Algés no passado recente. “Fomos os únicos contra e a prova de que a obra era mal localizada é que, depois das últimas cheias, esteve nove meses encerrado”.
Agora, perante a cratera de três metros no largo, Aníbal Guerreiro teme que a falta de vontade permaneça. “Vai fazer-se um investimento a resolver este problema do buraco, em vez de se resolver de uma vez por todas o problema maior”.
Mónica Albuquerque concorda e responsabiliza a autarquia pelos problemas estruturais da zona. Há “uma ribeira, que em parte está encanada, em que a manutenção é por conta da Câmara Municipal, é a Câmara Municipal que tem responsabilidades”.
A par disso, os problemas estruturais estão relacionados com a “construção desenfreada que tem sido feita nas últimas décadas aqui nesta zona”, afirmou a deputada do movimento de cidadãos, que elegeu uma vereadora nas últimas eleições.
“Gostaríamos que existissem mais medidas até no orçamento municipal” para a prevenção das cheias, incluindo “medidas de fundo que são da responsabilidade da Câmara”, afirmou a deputada, admitindo que a dimensão do problema obrigue a outros entendimentos.
Seria necessário que “a Câmara se entendesse com as outras instituições, nomeadamente as câmaras municipais vizinhas e a APA (Agência Portuguesa do Ambiente) para obras mais profundas, essas sim que têm de ser conciliadas também com o Governo”, sublinhou.