14 dez, 2023 - 00:00 • Lusa
O ex-diretor clínico do Hospital de Santa Maria afirmou esta quarta-feira que nunca foi contactado do Presidente da República sobre o caso das duas gémeas tratadas com um medicamento para a atrofia muscular espinhal, um caso com suspeita de favorecimento.
Em entrevista à RTP3, Luís Pinheiro rejeitou qualquer contacto da Presidência da República junto da direção clínica. .
"Nunca recebi qualquer contacto do senhor Presidente da República sobre nenhuma matéria e certamente não sobre esta", afirmou o diretor clínico do Hospital de Santa Maria quando as duas bebés foram tratadas (entre o final de 2019 e início de 2020), tendo adiantado que também não conhece o filho de Marcelo Rebelo de Sousa. .
O caso das duas gémeas residentes no Brasil que entretanto adquiriram nacionalidade portuguesa e vieram a Portugal receber, em 2020, o medicamento Zolgensma para a atrofia muscular espinhal, com um custo total de quatro milhões de euros, foi divulgado pela TVI, em novembro.
Após a divulgação da reportagem, o Presidente da República disse que foi contactado pelo seu filho, residente no Brasil, e encaminhou o caso para os serviços da Presidência que contactaram o hospital de Santa Maria, onde aquele medicamento era administrado. .
"Se tivesse tido esse contacto", não teria havido "qualquer consequência" porque os decisores "tomam as decisões clínicas em função das situações clínicas dos doentes", reiterou Luís Pinheiro durante a entrevista, considerando que "não é concebível" que as opções médicas "não sejam aquelas que decorrem da observação que o médico faz". .
"Não existiram ordens, e mesmo se existissem elas seriam absolutamente inconcebíveis e não enquadráveis no processo de decisão clínica", afirmou o médico. .
O relatório final da auditoria pedida pelo Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte (CHULN), a que a Lusa teve hoje acesso, indica que as duas meninas foram referenciadas (pedido de consulta) pela secretaria de Estado da Saúde, área tutelada por António Sales e Jamila Madeira.
Em resposta ao relatório, cujas conclusões foram hoje divulgadas, o ex-diretor-clínico disse que "a tutela não marcou consultas", fez a "sinalização de uma situação clínica para observação". .
"Independentemente da origem, eu não poderia de nenhuma forma discriminar negativamente um bebé" que necessitasse de observação, afirmou. .